O Ordenamento Pastoral Feminino Compromete a Missão: Uma resposta a Rick Waren

grayscale photo of people sitting on chair

Muito tem sido dito a respeito de se concentrar na Missão da Igreja. Isso é algo bom – recebemos uma missão de Jesus para fazer discípulos de todas as nações (Mateus 28:19) e, portanto, devemos nos comprometer continuamente com essa missão e encontrar maneiras de nos unirmos para cumprir essa missão juntos.

Entretanto, o assunto que desejo abordar é a importância da missão na perspectiva de Rick Warren. À luz de sua posição em relação a mulheres pastoras e a igreja de Saddleback que ordenou mulheres ao ministério pastoral e foi desassociada pela SBC (Convenção Batista que pertencia), Warren está em uma missão própria para convencer a SBC a não causar divisão sobre algo tão “secundário” para a missão como mulheres pregadoras. Como ele afirmou em seu infame discurso no plenário da SBC no ano passado: “Vamos continuar brigando sobre questões secundárias ou vamos manter o principal como principal? Precisamos fazer a obra, e isso fará Deus sorrir.”

“Desde o início”, Warren argumentou em uma carta aberta recente, “nossa unidade sempre se baseou em uma missão comum, não em uma confissão comum”.

Então, devemos nos concentrar em nossa missão ao invés de “brigar” sobre uma questão secundária como pastoras.

Questões Secundárias

Primeiro, devemos definir alguns termos. Muitas vezes, ao discutir diferentes níveis de doutrina bíblica, as pessoas usam os termos “doutrina de primeira ordem” e “doutrina de segunda ordem”. Uma doutrina de primeira ordem é aquela em que, se você mudar ou remover a doutrina, você perde o cristianismo completamente. Doutrinas como a trindade, a divindade de Cristo, a expiação substitutiva e a ressurreição corpórea de Cristo incorporam essa categoria. As doutrinas de segunda ordem são importantes, mas não são essenciais para o Cristianismo.

Ao usar tais categorias, eu não teria problemas em afirmar que o presbiterado exclusivamente masculino não é uma doutrina de primeira ordem – não muda fundamentalmente a natureza do cristianismo.

Entretanto, é importante reconhecer que só porque algo é uma doutrina de segunda ordem não significa que não seja importante; nem significa que divergências sobre a doutrina não devam delimitar a cooperação em nossa missão.

O próprio Jesus deixou isso claro quando orou ao Pai pela unidade entre seus seguidores “para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21). A unidade dos cristãos nos auxiliar a cumprir a missão.

Ademais, existe algo claro na oração de Jesus, Warren o está ignorando, é que essa unidade não é ilimitada. O próprio Jesus diz que a unidade dos seus seguidores será santificada pela verdade da Sua Palavra (Jo 17,17). A unidade cristã não é, como muitos praticam hoje, uma minimização da doutrina para que todos possamos se dar bem e alcançar o mundo. Pelo contrário, a unidade que alcançará o mundo se baseia em na distinção do mundo e se separar pela verdade da Palavra.

O que isso significa, então, é que há um limite em torno da unidade cristã. Não pode haver unidade com aqueles que não crêem no Evangelho. A comunhão cristã é impossível com aqueles que negam os fundamentos do Evangelho, incluindo a inerrância das Escrituras, o nascimento virginal, a divindade de Cristo, a expiação substitutiva e a justificação somente pela Graça por meio da fé em Cristo. João enfatizou isso em sua segunda epístola, quando escreveu: “Se alguém vier a vocês e não trouxer este ensinamento, não o recebam em sua casa, nem o saúdem, pois quem o saúda participa de suas más obras. ” (2 Jo 1:10). O evangelho é o limite da unidade cristã.

Nos últimos quinze anos, os evangélicos conservadores ensinaram muito sobre o Evangelho ser o centro da unidade cristã – somos unidos nessa verdade. Todas as outras questões doutrinárias devem ser deixadas de lado, muitos dizem, para que possamos nos unir em torno do que é realmente importante — o Evangelho.

Mas esse raciocinio, na verdade, está invertido. Ao contrário desses movimentos evangélicos populares, o Evangelho não é o centro da unidade cristã; o evangelho é o limite da unidade cristã. O Evangelho unifica os crentes, mas o faz porque nos separa daqueles que não crêem no evangelho.

O centro da unidade cristã é a Verdade da Palavra de Deus — toda. O evangelho é o limite da unidade cristã, mas o centro da unidade cristã é todo o conselho de Deus, toda a verdade contida em Sua Palavra inspirada, inerrante, autoritativa e suficiente.

Toda a verdade de Deus importa, toda a verdade de Deus afeta a unidade cristã em um determinado grau. A fé cristã é mais do que apenas o Evangelho – é todo o conselho de Deus. Assuntos doutrinários além dos fundamentos do Evangelho, como batismo, eclesiologia, hermenêutica, escatologia e outros, são secundários ao evangelho — eles não são o limite —, mas são importantes e afetam o grau em que podemos nos unir e cooperar com outros cristãos.

Em outras palavras, a unidade cristã necessariamente tem dois níveis: unidade dentro dos limites do Evangelho e unidade centrada em doutrinas importantes e práticas bíblicas. Quanto mais acordo eu tiver com alguém nesses assuntos, mais unidade devo ter com ele. Por outro lado, só porque posso afirmar que alguém é um cristão genuíno e que está dentro dos limites do evangelho, não significa que possa me unir a ele em todos os níveis. Desentendimentos sobre outras doutrinas “secundárias” necessariamente afetam os níveis de unidade e cooperação cristã, especialmente em relação a plantação de igrejas e membresia de igrejas.

Níveis de Unidade Cristã

Portanto, uma vez que o centro da unidade cristã é todo o conselho de Deus, toda doutrina importa e afeta os níveis de cooperação em determinado grau.

Existe mais um detalhe: Erros de segunda ordem também comprometem o Evangelho.

Erros de segunda ordem comprometem o Evangelho.

Eu defino da seginte maneira: É uma “mat´ria contra o Evangelho”. Em outras palavras, uma matéria que tem erros que ameaçam o Evangelho.

Pastoras ameaçam o Evangelho?

A pergunta lógica subsequente seria: Essa questão de segunda ordem a respeito de qualificação pastoral ameaça o Evangelho?

Novamente, o episopado exclusivamente masculino não é o Evangelho, como também não é essencial para a natureza do cristianismo. Uma mulher que afirma ser pastora pode ser cristã, e é possível que verdadeiros cristãos frequentem igrejas com mulheres nesse papel.

O pastorado feminino, no entanto, ameaça o Evangelho pelas seguintes razões:

O pastorado feminino reduz a autoridade e a clareza da Escritura.

Uma leitura clara e sincera de I Timóteo 2.12 é abundantemente clara:

Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio.

É impossível ler esse texto e chegar à conclusão de que as mulheres podem ensinar e exercer autoridade sobre os homens, isso requer um nível de malabarismo exegético, histórico e lógico que reduz a clareza e a autoridade das Escrituras. Algumas passagens das Escrituras são difíceis de interpretar – definitivamente não é o caso.

Se há alguma questão de difícil interpretação neste versículo, é se ele proíbe as mulheres de ensinar os homens em qualquer caso (o que alguns acreditam) ou apenas o ensino pastoral (o que outros acreditam). Entretanto, em qualquer uma das duas linhas de interpretação citadas, o ensino pastoral é proibido.

Eu sou um batista clássico, mas eu devo dizer que este texto que proíbe as mulheres de exercer ensino pastoral é mais explicitamente claro do que textos que versem a respeito do batismo de crentes adultos.

Se não podemos confiar na simples leitura de um versículo da Bíblia, podemos confiar em qualquer outro? Podemos confiar na afirmação de que Jesus nasceu de uma virgem? Talvez a palavra significasse apenas “jovem moça”. Podemos confiar na afirmação de que Jesus morreu em nosso lugar e ressuscitou vitorioso sobre o pecado? Podemos confiar que aqueles que colocam sua fé em Cristo serão perdoados? Talvez haja uma interpretação mais acadêmicamente aceitável desses textos.

2. O Pastorado Feminino ofusca a ordem criacional.

Esse é o exato ponto de I Timóteo 2:13-14

Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva.
E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão.

O versículo acima não é uma acusação ou depreciação contra as mulheres – na verdade, é uma acusação contra o fracasso de Adão em liderar como Deus determinou.

Deus decidiu que os homens deveriam liderar. Ele criou Adão primeiro e depois criou Eva a partir de Adão para ser uma ajudante adequada para ele. Adão foi cúmplice da transgressão de Eva porque não cumpriu sua responsabilidade ordenada por Deus de liderar, ao permitir que a serpente tentasse Eva, ele deixou de agir como seu protetor.

Quando as mulheres assumem a liderança na igreja, por definição, os homens não estão cumprindo sua responsabilidade ordenada por Deus, e o ambiente para a transgressão original ressurge.

Quando os homens não se posicionam e lideram – quando eles se omitem e fogem de seu papel determinado por Deus como líder, defensor, protetor, pastor e mestre, os ataques contra o Evangelho permanecem ferrenhos, a igreja fica indefesa e a serpente vence novamente.

Quando os homens se omitem e fogem de seu papel determinado por Deus como líder, defensor, protetor, pastor e mestre, os ataques contra o Evangelho permanecem ferrenhos, a igreja fica indefesa e a serpente vence novamente.

3. O Pastorado Femino subemte a Igreja ao Espírito desse Século.

Embora seja verdade que pastoras apareceram de vez em quando ao longo da história da igreja, nunca houve aceitação generalizada da prática até depois do surgimento do feminismo secular. “Hoje somos mais iluminados”, alguém poderia afirmar. “Paulo era um misógino, e estamos simplesmente contextualizando aos anseios modernos.”

Mas supor que o pensamento feminista em relação aos papéis de gênero é mais sensato é contraditório. É submeter os ensinamentos das Escrituras ao espírito da época — o que o Mundo considera ser um pensamento correto.

Em outras palavras, não há nada no texto das Escrituras – ou mesmo, para fins de argumentação, no contexto histórico e cultural da época de Paulo – que naturalmente levaria a qualquer conclusão diferente de que Deus, por meio de Paulo, proibiu as mulheres de servir no ofício do ensino pastoral, e que isso se aplicaria hoje com tanta autoridade quanto quando ele o escreveu. Requer impor ao texto pressuposições igualitárias derivadas da filosofia secular feminista para interpretar o texto de maneira diferente.

Se estamos dispostos a sujeitar o texto da Escritura a pressuposições seculares, onde iremos parar? O que nos impede de sujeitar o evangelho a ideologias que irão comprometê-lo?

Discutir por Questões Secundárias?

Afirmar que existam pastoras reduz a confiança nas Escrituras, enfraquece a liderança masculina ordenada por Deus e enaltece o espírito desse século.

Consequentemente, isso prejudica a nossa missão.

Print Friendly, PDF & Email
Author grayscale photo of people sitting on chair

Scott Aniol | Brasil

Scott Aniol, PHD, é o vice presidente executivo e o editor chefe do ministério G3. Ele é palestrante internacional, atuando em diversas igrejas, conferencias, faculdades, e seminários. Scott já escreveu diversos livros e dezenas de artigos.

Você pode saber mais a respeito dele em www.scottaniol.com Scott e sua esposa, Becky, tem quatro filhos. Caleb, kate, Christopher e Caroline.