Entendendo o Versículo: “Comer da minha carne e Beber do Meu Sangue”

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No Evangelho de João, um verso difícil surge depois de uma cena que se desenrola no sexto capítulo. Jesus milagrosamente alimenta os cinco mil homens e suas famílias com um pequeno almoço tirado de um menino. O milagre deixou doze cestos cheios de comida depois que todos foram servidos.

Posteriormente, Jesus surpreendeu seus discípulos ao se aproximar do barco deles no mar agitado enquanto eles atravessavam para o outro lado do Mar da Galiléia. O que os chocou foi que Jesus se aproximou do barco andando sobre as águas. Eles ficaram maravilhados. Ao receberem Jesus em seu barco, eles chegaram ao seu destino.

Nesse momento multidões seguiram Jesus e começaram a fazer-lhe perguntas. Jesus aproveitou a oportunidade para mostrar-lhes a verdade de sobre a Graça da vida Eterna e Provedora. Durante o seu ensino, ele afirmou ser “o pão da vida”, o que os fez lembrar do milagre de Deus no deserto. Enquanto eles arrazoavam entre si, Jesus disse:

Jesus, pois, lhes disse: Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. (João 6:53-54).

A declaração inicial de Jesus foi suficientemente chocante para eles, pois Jesus usou a linguagem “EU SOU” apontando para o evento do Êxodo, mas agora ele fala em comer a sua carne e beber o seu sangue. Isto certamente criou uma controvérsia entre os judeus. Jesus está encorajando o canibalismo? Para um judeu, a simples ideia de comer a carne de uma pessoa ou beber o seu sangue era repulsiva, pois isso seria uma clara violação da lei mosaica (Lv 17:12). O que Jesus quis dizer com sua declaração?

A Doutrina Católica da transubstanciação

De acordo com a Igreja Católica Romana, Jesus pretendia que as pessoas comessem sua carne e bebessem seu sangue. Esta doutrina da transubstanciação da Igreja Católica Romana tornou-se uma das grandes controvérsias da História. Os protestantes os contradiziam.

Durante a era da Reforma, muitos protestantes foram queimados publicamente nas ruas por se recusarem a abraçar a doutrina da transubstanciação. O sucesso da Reforma causou grande agitação entre a Igreja Católica Romana – especialmente porque muitos dos seus pregadores, estudiosos e homens comuns estavam dispostos a ir para a fogueira e serem queimados publicamente por negarem a transubstanciação.

O Concílio de Trento foi um contraprotesto aos reformadores (1545 – 1563), a Igreja Católica Romana deixou claro que opor-se aos ensinamentos do papa e às doutrinas de Roma seria assinar uma sentença de morte eterna – ser excomungado. De acordo com o Catecismo da Igreja Católica de 1376:

O Concílio de Trento resume a fé católica ao declarar: “pela consagração do pão e do vinho, opera-se a conversão de toda a substância do pão na substância do corpo de Cristo nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância do Seu sangue; a esta mudança, a Igreja católica chama, de modo conveniente e apropriado, transubstanciação”.

A respeito dos sacramentos, o Concílio de Trento reafirmou a eficácia dos sacramentos para a salvação e anatematizou aqueles que negaram a sua importância: “Se alguém disser que os Sacramentos da nova lei não foram todos instituídos por Jesus Cristo, Nosso Senhor, ou que são mais ou menos que sete, a saber: Batismo, Confirmação (Crisma), Eucaristia, Penitência (Confissão), Extrema-unção, Ordem e Matrimônio, ou também que algum destes sete não é Sacramento com toda verdade e propriedade, seja excomungado”. (Sessão 7 Canon 1).

O Concílio de Trento afirmou a doutrina da transubstanciação e excomunga aqueles que a rejeitam: “883. Cân. l. Se alguém negar que no Santíssimo Sacramento da Eucaristia está contido verdadeira, real e substancialmente o corpo e sangue juntamente com a alma e divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, e por conseguinte o Cristo todo, e disser que somente está nele como sinal, figura ou virtude — seja excomungado [cfr. n° 874 e 876]”.

Eles não apenas deixaram claro que os seus sacramentos são necessários para a vida eterna – mas até hoje aqueles que rejeitam a doutrina da transubstanciação devem ser condenados ao inferno (excomungados).

O Verdadeiro Significado das Palavras de Jesus

Deveria ficar claro pelo contexto que Jesus estava apontando para o fato de que eles deveriam receber a salvação pela fé. Em João 6:40, Jesus disse que “todo aquele que olha para o Filho e nele crê tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia”. Observe a ênfase na fé. De maneira semelhante, Jesus fala de fé ao dizer: “A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que Ele enviou.” (João 6:29).

Não é ao ingerir a sua carne e bebendo o seu sangue que somos salvos, mas somente pela fé na obra consumada de Cristo que se recebe a vida eterna.

É evidente que Jesus está destacando a fé nEle. Ademais, no Novo Testamento, Paulo escreve: “Assim, a fé vem pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Cristo” (Romanos 10:17). Não é ao ingerir a sua carne e bebendo o seu sangue que somos salvos, mas somente pela fé na obra consumada de Cristo que se recebe a vida eterna.

Jesus não incentivou seus seguidores a violar a Lei Mosaica. Isso teria feito de Jesus um infrator da Lei, em vez de ser o cumprimento final da Lei. Jesus disse que não veio para abolir a lei, mas para cumpri-la (Mt 5:17). É claro que Jesus estava usando simbolismo ao ensinar ao povo sobre o maná no deserto e apontar a si mesmo como o “pão da vida” (João 6:35).

Jesus não estava falando no contexto da Ceia do Senhor, pois isso não estava em vista neste momento. Um dos princípios fundamentais da interpretação bíblica é interpretar uma passagem em seu contexto adequado. O contexto aqui é sobre receber os benefícios do sacrifício de Jesus ao receber o único meio de graça salvadora oferecido por Deus.

No deserto, os israelitas não tinham um cardápio de opções diante deles todos os dias. Eles tinham uma comida apenas, e foi a que Deus providenciou, ou seja, o maná que veio do céu. Igualmente, Jesus ensina que ele é aquela oferta única – o exclusivo “pão da vida” que deve ser recebido integralmente. Ao apontar Jesus para sua carne e sangue, ele estava apontando para o sacrifício de seu corpo na cruz, que permanece até hoje como suficiente.

Em João 6:51, Jesus diz: “Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Se alguém comer deste pão viverá para sempre. E o pão que darei pela vida do mundo é a minha carne”. Quando Jesus usa o tempo futuro, “eu darei”, ele está apontando na direção de seu sacrifício perfeito e completamente suficiente como o Cordeiro de Deus (Hb 7:27; João 1:29).

A Igreja Católica Romana oferece um novo sacrifício de Jesus a cada Missa. De acordo com as Respostas Católicas, a “Eucaristia” (Gr. eucharistia, ação de graças) é o nome dado ao Santíssimo Sacramento do Altar sobre seus dois aspectos, o Sacramento e Sacrifício da Missa. Observe a palavra “sacrifício”, que é importante. A doutrina oficial da Igreja Católica Romana insiste que Jesus Cristo está verdadeiramente presente nas aparências do pão e do vinho que é oferecido como sacrifício.

Nenhuma oração de consagração feita por um sacerdote poderia fazer com que os elementos da Ceia do Senhor se transformassem no corpo e no sangue de Jesus, nem mesmo a oração do próprio Papa de Roma.

Isso não é apenas uma clara violação das palavras de Jesus, mas também um pensamento blasfemo de que um novo e renovado sacrifício é necessário. Cada vez que um padre católico romano estende as mãos com um pedaço de pão durante a missa e diz: “Este é o corpo de Cristo”, ele está mentindo. Da mesma forma, o cálice não contém o sangue de Jesus. Nenhuma oração de consagração feita por um sacerdote poderia fazer com que os elementos da Ceia do Senhor se transformassem no corpo e no sangue de Jesus, nem mesmo a oração do próprio Papa de Roma. O ensino da transubstanciação da Igreja Católica Romana é um truque barato. É um sacrifício falso.

O ensino da transubstanciação da Igreja Católica Romana é um truque barato. É um sacrifício falso.

O sacrifício de Jesus é suficiente. Não pode e não é repetível. O Seu sacrifício é suficiente e qualquer tentativa de recriar ou reexecutar esse sacrifício não é apenas impossível – é uma negação da completa obra de Jesus no Calvário. John MacArthur disse o seguinte em um sermão intitulado “Explicando a Heresia da Missa Católica, Parte 1” em 30 de abril de 2006:

Ele [Jesus] veio, ofereceu seu sacrifício, e Deus confirmou aquele sacrifício ao destruir o templo em 70 DC, através dos romanos. O Senhor destruiu os altares e todo o sistema sacrificial do Antigo Testamento. Ele tabém destruiu todos os registros de todas as genealogias, de toda a linha sacerdotal, encerrando assim, definitivamente, o sacerdócio. Não há mais sacrifícios. Não há mais altares. E não há mais sacerdotes com mandamento especial para oferecer sacrifícios. Tudo terminou com o sacrifício de Jesus Cristo.

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Josh Buice | Brasil

Josh Buice é o fundador do Ministério G3 e serve como pastor na Pray’s Mill Baptist Church (Igreja Batista Moinho de Oração) na zona oeste de Atlanta. Ele ama teologia, pregação, história da Igreja, e é bastante compromissado com a Igreja local. Ele gosta de praticar esportes, como corrida de longas distâncias e costuma caçar nas florestas do país. Ele tem escrito sobre salvação pela Graça desde que estava no seminário e tem atingido um número relevante de leitores com o passar dos anos.