Cristãos podem celebrar o Advento?

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Pergunte para a maioria das pessoas, todos sabem que dezembro marca o início do Natal. Todos contam 12 dias até o nascimento de Jesus. Os dias 14 a 25 de dezembro são os que que antecedem o Natal.

Na tradição cristã, os Doze Dias na verdade referem-se à celebração do nascimento de Cristo – também chamado de “Natal” – entre o Natal (25 de dezembro) e a Epifania (6 de janeiro), esses são os dias que celebram a visita dos Reis Magos. Por esta razão, a noite de 5 de janeiro é chamada de “Noite de Reis”, que ficou famosa pela peça de William Shakespeare com o mesmo título.

De fato, foi uma estratégia de vendas que levou à contagem equivocada de 14 a 25 de dezembro como Os Doze Dias que antecedem o Natal. Para o mercado mundial, 25 de dezembro marca o fim da temporada de festas.

Os dias que antecedem o Natal – quatro semanas para ser exato – são mais tradicionalmente chamados de Advento, o período em que os cristãos antecipam historicamente a Primeira e a Segunda Vinda de Jesus à Terra. Na tradição histórica, os cristãos não celebram (ou cantam sobre) o nascimento de Cristo até a véspera de Natal, eles se concentram em cantar e celebrar o nascimento durante os Doze Dias do calendário litúrgico.

A celebração do Advento faz parte do que chamamos de “Ano Cristão” ou “Calendário Litúrgico”. Quando surge o tema: “calendário litúrgico”, alguns cristãos (especialmente os batistas) ficam um pouco receosos. Isso não é um costume católico? Eles sempre perguntam: “Cristãos podem celebrar o advento?”.

Breve História do Ano Cristão

Para responder a essa pergunta, vamos falar sobre a História, sobre quando e porquê as observâncias do Ano Cristão foram desenvolvidas.

A primeira celebração litúrgica anual a surgir entre os primeiros cristãos foi, não surpreendentemente, a da morte e ressurreição de Cristo que na era do Novo Testamento teria correspondido a Páscoa judaica. Essa celebração se tornava frequentemente o momento em que os novos convertidos eram batizados. Posteriormente, os líderes cristãos debateram se a ressurreição de Cristo deveria ser sempre celebrada no Domingo ou se deveria corresponder à Páscoa judaica, que é determinada pela lua nova e, portanto, ocorreria em dias da semana diferentes a cada ano.

Em 325, o Concílio de Nicéia abordou a polêmica sobre a data correta para a celebração da ressurreição de Cristo. Embora a morte e ressurreição de Cristo tenham ocorrido durante a festa da Páscoa em 14 de Nisã, de acordo com os relatos dos evangelhos, os líderes da igreja em Nicéia decidiram separar a celebração da ressurreição de Cristo do calendário judaico porque o consideravam desorganizado e impreciso. Consequentemente, determinaram que, ao contrário da data judaica moderna de 14 de Nisã, a celebração da ressurreição de Cristo deveria ocorrer sempre no Domingo seguinte ao equinócio de inverno (o início da primavera, quando o sol está acima da linha do Equador). Mais tarde, no Sínodo de Whitby em 664, a tradição passou a observar o feriado no primeiro domingo após a lua cheia no equinócio da primavera. É assim que ainda hoje marcamos a data da Páscoa (batistas também!).

As observâncias de outros dias do calendário da Igreja desenvolveram-se de forma semelhante. Cartas compostas por Atanásio de Alexandria de 329 a 333 indicam uma expansão da celebração da ressurreição de Cristo para incluir os seis dias anteriores como “os dias santos da Páscoa”, agora frequentemente chamados de “Semana Santa”. Mais tarde, em 334, ele ampliou ainda mais o período com uma quarentena chamada de “Grande Jejum” (agora chamado de “Quaresma” devido ao “alongamento” das horas na primavera), quarenta dias correspondendo ao período de preparação de Cristo no deserto após seu batismo. Esta prática parece ter sido solidificada pela ordem eclesial do final do século IV nas Constituições Apostólicas.

Uma celebração específica da entrada triunfal de Cristo em Jerusalém no início da Semana Santa apareceu pela primeira vez logo após o Edito de Milão em 313, quando os cristãos reconstituíram o evento com uma procissão pela cidade que incluía agitar ramos de palmeira e cantar “Hosana! ”

As Constituições Apostólicas também mencionam a celebração do Natal, que, a partir de um sermão de João Crisóstomo (c.349-407), parece ter sido celebrado pela primeira vez em 25 de dezembro de 386 em Antioquia. O estabelecimento dessa data específica surge de uma antiga crença judaica de que os grandes profetas de Israel morreram no dia de seu nascimento. Os primeiros cristãos parecem ter aplicado esta crença a Jesus, Assim, visto que 25 de março era considerado a data original da morte de Cristo, determinaram que era também a data em que nasceu. Depois, simplesmente acrescentaram nove meses para chegar a 25 de dezembro. A noção popular de que a data do Natal surgiu de uma “cristianização” dos festivais pagãos do solstício de inverno carece de qualquer evidência.

As Constituições Apostólicas também prescrevem a festa da Epifania (que significa “aparecer”) a ser celebrada no dia 6 de janeiro em comemoração à visita dos magos à Jesus, incluindo o seu batismo, o Dia da Ascensão como sendo quarenta dias depois da Páscoa e o Pentecostes dez dias depois. Não sabemos quando o Advento surgiu no calendário, o período de preparação é de quatro semanas antes do Natal, mas os monges na França já observavam a data em 480. Portanto os doze dias entre o Natal e a Epifania foram celebrados como o período prolongado do Natal.

Então, no final do século V, o calendário litúrgico básico estava formado:

ADEVENTOQuatro semanas antes do natalPreparação
NATAL25 de Dezembro- 05 de JaneiroEncarnação de Cristo
EPIFANIA06 de JaneiroVisita dos magos e batismo de Cristo
QUARESMAQuarenta dias antes do NatalPreparação
SEMANA SANTASeis dias antes da PáscoaMorte de Cristo e Ressurreição
PÁSCOAO primeiro Domingo após a Lua cheia depois do equinócio de primaveraRessurreição de Cristo
ASCENSSÃOQuarenta dias depois da páscoaAscensão de Cristo
PENTECOSTECinquenta dias depois da páscoaVinda do Espírito Santo

A importância desta breve história é notar, em primeiro lugar, quão cedo na história da igreja estas observâncias se desenvolveram e, em segundo lugar, o fato de que o desenvolvimento das celebrações não terem tido nenhuma ligação inerente com erros teológicos que eventualmente se desenvolveram no catolicismo.

Posteriormente, o catolicismo romano adicionou alguns rituais à observância dos feriados que incorporaram uma teologia comprometedora, e acrescentou outros “dias” que celebravam os chamados santos, Maria e outras práticas idólatras do romanismo.

Entretanto, a observância do calendário era originalmente um momento para concentrar atenção especial em eventos particulares no nascimento, vida, morte, ressurreição, ascensão e segunda vinda de Jesus Cristo. Como o termo “Ano Cristão” indica, esta é uma forma dos cristãos santificarem o ano, para serem sempre levados a concentrar-se em Cristo e no significado de sua obra em nome de seu povo.

Portanto, isto ajuda-nos a entender a questão com mais clareza: Podem os cristãos celebrar aspectos da vida de Cristo na sua adoração? Claro! Na verdade, devemos lembrar-nos regularmente de quem é Cristo e do que Ele fez por nós. Podemos e devemos fazer isso em qualquer época do ano, é claro, mas reservando intencionalmente determinados períodos para nos concentrarmos em aspectos específicos da vida de Cristo a fim de garantir que pratiquemos a Palavra. Igualmente, a pregação versículo por versículo através dos livros da Bíblia, cumulada com a celebração intencional do Ano Cristão, garantem que demos a devida atenção a todos os aspectos da vida de Cristo durante o ano.

Os cristãos podem celebrar aspectos da vida de Cristo na sua adoração? Claro!

Alguns poderiam discordar de “programar” as lembranças de Cristo. Eles diriam: “esse ritual é legalista”. Mas pense cuidadosamente sobre a lógica do argumento. Diríamos a mesma coisa sobre celebrar a Ceia do Senhor? Diríamos o mesmo em relação à celebração de aniversários ou datas comemorativas? Certamente não. Reconhecemos que, embora sempre devemos valorizar e celebrar a vida e o casamento, reservar dias específicos para a recordação é algo bom e até necessário; ajuda-nos a renovar e garantir nossa atenção a esses aspectos importantes da vida de Jesus. Você deve fazer todo o esforço necessário para se lembrar de Sua obra redentora.

Eu acredito ser no mínimo irônico quando ouço cristãos afirmarem com convicção – e uma pitada de piedade – que não são amarrados por tradições “católicas” como o Calendário Litúrgico, e ainda assim, através de suas práticas, eles provam ser limitados por um calendário litúrgico de outro tipo – O Calendário Litúrgico do Consumismo Desenfreado.

Eles insistem que não celebram a Epifania, o Batismo de Cristo, o Domingo de Ramos, a Semana Santa, a Páscoa, o Pentecostes, o Dia da Ascensão, Domingo da Trindade, Advento ou os tradicionais Doze Dias de Natal.

Entretanto suas igrejas celebram a véspera de Ano Novo, o Dia dos Namorados, o Dia do Coelhinho da Páscoa, o Dia das Mães, o Dia da Independência do Brasil, Dia dos Pais, Proclamação da República, Tiradentes, Dia do Trabalho, Carnaval e um Natal que não tem nada que ver com o Bíblico – dias com costumes sem raízes bíblicas ou cristãs, mas oriundos unicamente da tradição do consumismo.

Qual tradição mais influencia a prática da sua igreja? A das igrejas cristãs históricas ou a do comércio brasileiro?

Não existe um mandamento bíblico para celebrar o Ano da Igreja, e se alguém decidir não seguir o Calendário da Igreja, não insistirei para que o faça.

Entretanto, a forma como os cristãos celebram épocas como o Advento revela o que os influencia. Eu como costumo dizer aos meus alunos: “é impossível evitar ser influenciado por alguma tradição”. A questão é: “qual tradição mais influencia a prática da sua igreja? A das igrejas cristãs históricas ou a do comércio brasileiro?

O Advento pode ser uma época maravilhosa do ano para lembrar as profecias sobre a primeira vinda de Cristo e anunciar seu retorno. Se todas as profecias relativas à sua primeira vinda foram cumpridas exaustivamente, podemos ter confiança de que aquelas profecias à serem cumpridas também o serão em sua segunda vinda.

As quatro semanas do Advento ajudam a lembrar e a concentrar esses temas. Não devemos acrescentar quaisquer rituais ou elementos de adoração além do que Deus prescreveu na sua Palavra; mas por meio de leituras, hinos, orações e sermões das Escrituras, cuidadosamente escolhidos, nossos corações podem ser moldados pela Palavra para clamar como deveríamos: “Ó, vem, ó, vem, Emanuel!”

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Scott Aniol | Brasil

Scott Aniol, PHD, é o vice presidente executivo e o editor chefe do ministério G3. Ele é palestrante internacional, atuando em diversas igrejas, conferencias, faculdades, e seminários. Scott já escreveu diversos livros e dezenas de artigos.

Você pode saber mais a respeito dele em www.scottaniol.com Scott e sua esposa, Becky, tem quatro filhos. Caleb, kate, Christopher e Caroline.