Beleza e Harmonia: A Obra do Espírito Santo na Criação

a view of the earth from space

A primeira obra do Espírito é relatada em Gênesis, no capítulo de abertura da Escritura:

No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. (Gn 1:1,2)

No primeiro dia da criação, Deus criou toda a matéria, tempo e espaço. Pense nisso: antes do primeiro dia da criação, tudo o que existia era o Deus triúno. Não havia matéria, tempo ou espaço. Deus criou tudo isso no primeiro dia.

Mas, como nos diz Gênesis 1:2, esse espaço e matéria – céu e terra – eram “sem forma e vazio”. A simples criação da matéria e do espaço não significava que eles já estivessem organizados de forma a serem habitáveis para ​​os seres humanos.

O Espírito de Deus pairava sobre a face das águas, ele é a pessoa da Trindade responsável pela ordem na Criação. O termo hebraico rûach pode significar “sopro”, “vento” ou “espírito”, dependendo do contexto. O mesmo é verdade no Novo Testamento sobre o termo pneuma. Podemos ter certeza de que o termo em Gênesis 1:2 se refere ao Espírito Santo por causa do verbo “pairar”, que não se encaixaria em “vento” ou “sopro”. Moisés também usa o mesmo verbo para descrever Deus “pairando” sobre seu povo no final do Pentateuco, o que parece ser um paralelo proposital com os versículos iniciais do Pentateuco (Dt 32:11).

Além disso, como falatemos em breve, Moisés faz paralelos entre a obra do Espírito na criação do Mundo e a Sua obra na criação do tabernáculo, existem evidências de que ele pretendia referir-se ao Espírito Santo em Gênesis 1:2. Da mesma forma, Jó declara: “Pelo seu Espírito [rûach] os céus se tornaram formosos” (26:13), e Jó 33:4 refere-se claramente ao Espírito divino quando afirma: “O Espírito [rûach] de Deus me fez , e o sopro do Todo-Poderoso me dá vida.”

Em outras palavras, nas palavras iniciais das Escrituras encontramos o Espírito de Deus ativamente envolvido na obra da criação. Na verdade, no capítulo inicial de Gênesis encontramos todas as três pessoas do Deus triúno ativas na criação: Deus [o Pai] criou os Céus e a Terra, Ele o fez através de sua Palavra [o Filho], e a obra foi concluída pelo Espírito – essas apropriações da obra da criação pelas pessoas da divindade refletem suas relações originais e eternas. Salmos 33:6 retrata este ato trinitário na criação: “Pela palavra do Senhor foram feitos os Céus, e pelo sopro [rûach] de sua boca todo o seu exército”. Portanto, todas as três pessoas da divindade estiveram envolvidas na criação e, como acontece com todas as obras de Deus, Ele a realizou por meio do Filho e a concluiu pelo Espírito.

Nos seis dias da criação, o Espírito Santo de Deus trouxe ordem ao cosmos – Ele levou à conclusão e à perfeição as obras que Deus criou.

Assim, nos seis dias da criação, o Espírito Santo de Deus trouxe ordem ao cosmos – ele levou à conclusão e à perfeição as obras que Deus criou. Esta ordem é refletida no termo grego cosmos, que a tradução grega do Antigo Testamento usa para caracterizar a obra consumada da criação: “Assim foram terminados os céus e a terra, e todo o seu exército [cosmos]” (Gn 2). Paulo usa esse mesmo termo para descrever a criação em seu sermão no Areópago: “O Deus que fez o mundo [cosmos] e tudo que nele há, sendo Senhor do Céu e da Terra, não habita em templos feitos pelo homem”.

O Espírito Santo de Deus formou o cosmos, um arranjo ordenado do Céu e da Terra, de modo que a criação seja ordenada e organizada. É por isso que Deus declara que a sua criação é “boa” (Gn 1:4, 10, 12, 18, 21, 25). A palavra hebraica implica mais do que apenas bondade moral, o termo incorpora a ideia de beleza estética e harmoniosa. A criação é bela porque reflete a ordem e a harmonia do próprio Deus.

O Salmo 104 incorpora poeticamente esta ideia de criação manifestando a beleza e a ordem de Deus, identificando a pessoa da Trindade que realiza essa obra Maravilhosa:

Envias o teu Espírito, eles são criados, e, assim, renovas a face da terra.

O Espírito Santo de Deus, em sua obra ativa de criação, trouxe uma ordem maravilhosa ao mundo que Deus criou.

O Espírito Santo de Deus, em sua obra ativa de criação, trouxe uma ordem maravilhosa ao mundo que Deus criou.

Beleza e Sabedoria

Observe também a qualidade particular que caracteriza a obra de criação do Espírito no Salmo 104:24:

Que variedade, Senhor, nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste, cheia está a terra das tuas riquezas.

A sabedoria é a qualidade que o salmista associa à obra criativa do Espírito, e isso nos ajuda a confirmar a natureza Sua principal obra. A sabedoria é a capacidade de encaixar as coisas como deveriam ser, a habilidade de criar harmonia e ordem. Assim, não deveríamos ficar surpresos quando Provérbios 3:19 afirma que o Senhor fundou a terra pela sabedoria – pela habilidade de encaixar as coisas de maneira harmoniosa.

Essa harmonia e ordem da criação que foram trazidas pelo Espírito de Deus é o que chamamos de beleza. Beleza é adequação, ordem e harmonia. Esta é, em última análise, a obra do Espírito Santo na criação. Como observou Ambrósio de Milão: “Depois que este mundo criado passou pela ordem do Espírito, ele ganhou toda a beleza daquela graça, com a qual o mundo é iluminado”. O Espírito Santo é o que traz beleza a todas as coisas.

Sinclair Ferguson observa que esta primeira ação do Espírito Santo nas Escrituras é “a de estender a presença de Deus à criação de tal maneira que ordene e complete o que foi planejado na mente de Deus”. Sobre isso:

Foi mais especialmente obra do Espírito Santo trazer o Mundo à sua beleza e perfeição, saindo do caos, pois a beleza do Mundo é uma comunicação da beleza de Deus. O Espírito Santo é a harmonia, a excelência e a beleza da Divindade. . . portanto, era sua obra comunicar beleza e harmonia ao Mundo, e assim lemos que foi Ele quem se moveu sobre a face das águas

“Este”, continua Ferguson, “é exatamente o papel que o Espírito específicamente desempenha em outras passagens das Escrituras”.

Em outras palavras, o primeiro ato do Espírito revela o seu papel característico dentro da divindade: O Espírito Santo é a pessoa que ordena e completa o plano divino na criação. Como observamos, a criação é um ato indivisível, do Deus indivisível, todas as três pessoas da divindade estiveram ativas na criação. Contudo, o Espírito em particular completa a criação. Como observa Gregório de Nissa: “Toda operação que se estende de Deus à Criação. . . tem sua origem no Pai, e procede através do Filho, e é aperfeiçoado no Espírito Santo.” Ou como diz Basílio de Cesaréia, o Pai é a “causa original”, o Filho é a “causa criativa”, e o Espírito é a “causa aperfeiçoadora” da criação.

Aperfeiçoar, completar, embelezar – estas são a natureza da obra do Espírito Santo.

Aperfeiçoar, completar, embelezar – estas são a natureza da obra do Espírito Santo.

A Criação do Tabernáculo

Na verdade, a obra criativa do Espírito de Deus em Gênesis 1 é paralela a outra de igual beleza nas Escrituras – a criação do tabernáculo. Observe o que Deus diz a respeito dos artesãos do tabernáculo:

Farás vestes sagradas para Arão, teu irmão, para glória e ornamento. Falarás também a todos os homens hábeis a quem enchi do Espírito de habílidade, que façam vestes para Arão para consagrá-lo, para que ministre o ofício sacerdotal. (Êxodo 28:2-3)

Curiosamente, o termo traduzido como “habilidade” é a palavra hebraica para sabedoria, a mesma virtude que caracteriza a obra de criação de Deus atribuída ao Espírito. Para que os artesãos pudessem desenhar lindas roupas para Arão, Deus os encheu de um Espírito [rûach] – a mesma palavra hebraica que se refere ao Espírito Santo, de habílidade, a capacidade de criar beleza e ordem.

Ademais, a conexão entre beleza, sabedoria e o Espírito de Deus fica ainda mais explícita quando Deus descreve aqueles que construiriam o próprio tabernáculo:

Disse mais o Senhor a Moisés: Eis que chamei pelo nome a Bezalel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá, e o enchi do Espírito de Deus, de habilidade, de inteligência e de conhecimento, em todo artifício, para elaborar desenhos e trabalhar em ouro, em prata, em bronze, para lapidação de pedras de engaste, para entalho de madeira, para toda sorte de lavores. Eis que lhe dei por companheiro Aoliabe, filho de Aisamaque, da tribo de Dã; e dei habilidade a todos os homens hábeis, para que me façam tudo o que tenho ordenado: (Êxodo 31:1-6)

A palavra hebraica traduzida como “habilidade” nesta passagem é o mesmo termo traduzido como “habilidade” em Êxodo 28 e traduzido como “sabedoria” no Salmo 104:24 e Provérbios 3:19. Observe sua estreita associação com “habilidade para conceber projetos artísticos”. E o mais significativo para a nossa discussão, observe como Deus dotou Bezalel (e Aoliabe) com tal capacidade de fazer o belo tabernáculo com todos os seus elementos: “Eu o enchi do Espírito de Deus”.

Como a pessoa divina que caracteristicamente traz beleza e ordem à criação de Deus, o Espírito também capacita os humanos a fazerem o mesmo. A obra de embelezamento do Espírito Santo poderia ser considerada como um conjunto da categoria que traz ordem.

Existe outro exemplo bíblico que evidencia essa característica do Espírito Santo para trazer ordem ao caos. Isaías 32 surge no meio de uma série de oráculos de “ais” que pronunciam julgamento sobre o povo de Israel. No entanto, o capítulo 32 promete um dia em que tal julgamento será revertido na vinda do reino do Messias. Uma maneira pela qual o profeta descreve esse dia é diferenciando entre julgamento e bênção. Ele afirma que Jerusalém ” a cidade populosa ficará deserta; Ofel e a torre da guarda servirão de cavernas para sempre, folga para os jumentos selvagens e pastos para os rebanhos, até que se derrame sobre nós o Espírito lá do alto; então, o deserto se tornará em pomar, e o pomar será tido por bosque. (Isaías 32:14,15 Almeida Revista e Atualizada)

O Espírito de Deus é quem vem transformar o julgamento e a desolação em fecundidade e beleza. Ele transforma o que está desordenado e feio em ordem e beleza.

Como a pessoa divina que caracteristicamente traz beleza e ordem à criação de Deus, o Espírito também capacita os homens a fazerem o mesmo.

A Criação do Homem

O Espírito de Deus foi fundamental para trazer harmonia e beleza a toda a criação no início dos tempos, e teve um papel particularmente significativo na criação da vida humana. Gênesis 2:7 afirma:

Então, formou o Senhor Deus ao homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente.

soprou” aqui é um termo diferente daquele traduzido como “Espírito” [rûach] em 1:2, no entanto, os dois termos são frequentemente usados ​​em sentidos paralelos, indicando uma conexão intencional entre “sopro” e o Espírito Santo. Por exemplo, Jó 27:3 emprega ambos os termos de forma paralela quando afirma: “enquanto meu fôlego estiver em mim e o espírito [rûach] de Deus estiver em minhas narinas”. Ainda mais significativo, Jó 33:4 usa ambos os termos com referência direta à criação do homem:

O Espírito de Deus me fez, e o sopro do Todo-Poderoso me dá vida.

O Espírito de Deus é o sopro do Todo-Poderoso que concede vida harmoniosa ao Homem, caso contrário ele ainda seria um punhado de barro sem vida. Pelo poder do Espírito, o homem recebeu um espírito único, diferente de todo o resto da criação.

O Espírito trouxe o plano eterno de Deus para criar um povo pelo Seu nome. Isaías 43:7 afirma que Deus criou o homem para a Sua própria glória, e o Espírito levou esse propósito à conclusão ao conceder a vida para Adão.

A Concepção Virginal

Ao ordenar a criação de Deus, embelezar o tabernáculo de Israel e trazer vida ao Primeiro Adão e ao Último Adão, o Espírito aperfeiçoa e completa o plano eterno de Deus na história.

O Espírito de Deus também foi fundamental na criação de uma vida humana especial – o Último Adão, Jesus Cristo. A concepção do Messias não foi realizada através da união de um homem e uma mulher; antes, Maria “foi encontrada grávida do Espírito Santo” (Mt 1:18, 20). Gabriel havia anunciado a Maria que “o Espírito Santo virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; portanto, o menino que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus” (Lc 1,35). Tal como havia feito com a criação original, o Espírito tomou o que já havia sido criado por Deus (o corpo de Maria) “para produzir o ‘segundo homem’ e através dele restaurar a verdadeira ordem, assim como trouxe ordem e plenitude a informe. e vazia criação original.”

Compreender estas duas obras significativas de trazer vida e ordem à criação, tanto ao Primeiro Adão como ao Último Adão, ajuda-nos a reconhecer a obra característica do Espírito Santo: O Espírito nunca faz nada por si mesmo ou independente dos propósitos de Deus. A obra do Espírito serve ao plano eterno de Deus para o seu mundo e para o seu povo. Ao ordenar a criação de Deus, embelezar o tabernáculo de Israel e trazer vida ao Primeiro Adão e ao Último Adão, o Espírito aperfeiçoa e completa o plano eterno de Deus na história.

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Scott Aniol | Brasil

Scott Aniol, PHD, é o vice presidente executivo e o editor chefe do ministério G3. Ele é palestrante internacional, atuando em diversas igrejas, conferencias, faculdades, e seminários. Scott já escreveu diversos livros e dezenas de artigos.

Você pode saber mais a respeito dele em www.scottaniol.com Scott e sua esposa, Becky, tem quatro filhos. Caleb, kate, Christopher e Caroline.