Aborto e Justiça Social

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A Suprema Corte dos Estados Unidos está reconsiderando a sua decisão sobre a proibição do aborto de até 15 semanas no Mississippi, muitos já sabem qual será a decisão do caso ‘Roe v. Wade’ (Lei a favor do aborto) pois sabem como o Judiciário pensa. A maioria acredita que a Suprema Corte decidirá sobre o caso em algum momento, uma vez que os defensores do aborto se preparam para um mundo pós-Roe (depois da Lei a favor do aborto) e a possibilidade de que o aborto se torne uma decisão estadual. À medida que a probabilidade desse novo cenário, será necessário que os cristãos entendam os argumentos em torno do aborto para que não sejam pegos desprevenidos no assunto.

Há, no entanto, um movimento em andamento para abandonar o esforço que nos trouxe ao ponto crítico da história. Ele visa envergonhar os defensores pró-vida, postulando um novo padrão com ambiguidade ideológica e sem direção ou propósito definido. Este novo padrão é o chamado toda vida. É a ideia de que você não pode ser genuinamente “pró-vida” a menos que defenda os benefícios de todas as vidas ao cuidando dos necessitados por exemplo. Aqueles que promovem essa posição geralmente reúnem uma miríade de causas sociais e soluções governamentais para ajudar a cuidar das crianças até que atinjam a maioridade. Essa posição sustenta que qualquer pessoa que afirme ser pró-vida deve subscrever irrestritamente as ideias de justiça social, incluindo a justiça climática, ou então correr o risco de ser rotulado como alguém que não seja realmente pró-vida.

Daniel Darling, diretor do Land Center for Cultural Engagement no Southwestern Seminary (Centro de Engajamento Cultural do Seminário Sulista), compartilhou recentemente sua visão pró-vida de toda a vida, do útero ao túmulo, ou seja “dignidade”. Em sua entrevista ao jornal do Seminário, Darling expõe a ideia de que uma “ética pró-vida totalmente formada” requer mais do que apenas cuidado para com o feto. Embora essa nova ética inclua a vida do nascituro, ela envolve a visualização de uma ampla gama de questões sociais como requisitos de uma visão efetivamente coerente. A nova ética de Darling assume que os “proliferadores “pró-vida” não valorizam todos os seres humanos como portadores da imagem de Deus da maneira deveriam. Além disso, Darling postula que, se tivéssemos a visão correta, a visão dele, veríamos tudo, desde a imigração até a pobreza, que são tão importantes quanto salvar a vida dos fetos.

O exposto é perigoso.

O sentimentalismo, como uma praga, conseguiu fundar muitas igrejas, o fundamento que outrora foi a Palavra de Deus, agora foi substituído pela relevância à cultura que odeia a Deus.

Uma questão de conveniência

No que diz respeito à questão da vida, existem atualmente dois pontos de vista. Para o cristão, a questão da dignidade humana começa na concepção. Para o judiciário, a questão da dignidade humana só se aplica quando o feto tem desenvolvimento– um ponto clinicamente determinado no desenvolvimento de um nascituro.

Os cristãos acreditam que Deus criou a humanidade à sua imagem (Gn 1:27), e os seres humanos têm valor, dignidade e mérito inatos. O resultado de manter o padrão é que toda a vida criada por Deus está sujeita a Ele. Portanto, não vamos interferir ao encerrar a vida por conveniência. Manter esse raciocínio garante que nenhum ser humano seja assassinado no útero e toda a vida seja valorizada.

O padrão que está sendo discutido na Suprema Corte pela decisão ‘Roe v. Wade’ é a viabilidade fetal. Esse padrão arbitrário é a causa do caos que atualmente testemunhamos. A viabilidade sustenta que um ser humano no útero não é totalmente humano e não pode ser protegido até um ponto de desenvolvimento predeterminado (normalmente no terceiro trimestre). O problema com essa afirmativa o é que os avanços científicos nos proporcionaram uma janela para o útero da mãe. Agora sabemos que a vida que cresce dentro dessa mãe é humana, pode sentir dor e tem um batimento cardíaco logo nas primeiras 6 semanas.

No caso Dobbs v. Jackson (Decisão da Cote Americana que afirma que os EUA não concede o direito ao aborto) está sendo discutido a questão da viabilidade. Se for determinado que esse padrão é muito arbitrário, e é, Roe v. Wade será encerrado. Então, caberá aos estados filiados determinar se eles continuarão a patrocinar abortos. Atualmente, 21 estados estão prontos para restringir o aborto se isso acontecer.

O Argumento sobre todas as vidas

Normalmente, católicos e evangélicos pró-vida, com exceções (para estupro e incesto), têm estado na vanguarda do movimento pró-vida. Infelizmente, seu foco mudou para a justiça social, deixando os bebês vulneráveis ​​no útero de suas mães.

A ideia que está sendo promovida pelo movimento a favor da vida é que, para ser genuinamente pró-vida, você deve abraçar toda uma ética de vida. Isso inclui defender tudo, desde a pobreza global até a proteção do meio ambiente, desde o empoderamento de mulheres e meninas até a justiça social e econômica. Este movimento de soluções governamentais para as necessidades humanas básicas cobre do útero até o túmulo. Para eles, qualquer um que não defenda isso não é genuinamente “pró-vida”.

O sentimentalismo, como uma praga, conseguiu fundar muitas igrejas, o fundamento que outrora foi a Palavra de Deus, agora foi substituído pela relevância à cultura que odeia a Deus. Já argumentei anteriormente que o sentimentalismo é a ideia de que os sentimentos de alguém são o padrão pelo qual determinamos como devemos agir.

A Vulnerabilidade do Argumento

O argumento “toda a vida é pró-vida”, empregado por homens como Darling e outros, funciona porque parece verdadeiros. Quem não é contra a justiça? Quem não é a favor de tratar as pessoas igualmente?

No entanto, a falha do argumento é a pressuposição básica de que aqueles que são contra o aborto não se importam com os imigrantes, os pobres e os menos afortunados. Essa é a mesma tática usada pelo Black Lives Matter (Movimento Vidas Negras Importam). A aceitação da frase pressupõe a ideia de que alguém acredita que essas vidas não importam. Antes de aceitarmos essa pressuposição, alguém deve defendê-la. Darling, não provou seus argumentos com nenhum exemplo de caso. Ele simplesmente pressupõe que aqueles que defendem os nascituros se preocupam apenas com os nascituros e com mais ninguém, fim da história. Isso é perigoso.

Em segundo lugar, o argumento da vida toda não fornece categorias para distinguir entre a criança indefesa no útero e a pessoa capaz de ajudar a si mesma. Ele nem mesmo faz a diferenciação entre um bebê no útero que não pode falar por si, dos “oprimidos” que podem tomar decisões de vida.

Finalmente, de onde tiramos a ideia de que focar na vida no útero significa automaticamente que não podemos acreditar também que aqueles fora do útero têm dignidade á ser protegida? Ninguém diz às mulheres que lutam contra o câncer de mama que, a menos que lutem contra todos os tipos de câncer, não podem se preocupar genuinamente em lutar contra o câncer de mama. Um atleta que se dedica no futebol não é informado de que não pode ter sucesso no campo, a menos que se concentre em todos os demais esportes.

Sobre a questão do assassinato, a Bíblia não diz: “Não matarás e deves consistentemente alimentar, abrigar, vestir, fornecer assistência médica gratuita, atacar a justiça climática, derrubar os sistemas de segregação racial e desigualdade enquanto se engaja na luta contra o racismo”. Então, e somente então, você pode realmente ser “pró-vida”. Ela simplesmente diz: “não matarás”.

Minha Esperança é que nos esforcemos em proteger singularmente a vida no útero e testemunhemos o fim do aborto.

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Author Church-Young-Baby

Virgil Walker (Brasil)

Virgil L. Walker é o Diretor Executivo de Operações do Ministério G3, autor e conferencista. Ele é o co-apresentador do Just Thinking Podcast. Virgil é apaixonado por ensinar, fazer discípulos e compartilhar o Evangelho de Jesus Cristo. Virgil e sua esposa Tomeka estão casados ​​há 26 anos e têm três filhos.