A responsabilidade bíblica dos pais cristãos

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Qual a sua missão na sua família?

Todo negócio de sucesso tem uma declaração de missão que afirma claramente a visão central e os objetivos principais da empresa. No entanto, a declaração de missão não existe simplesmente para ser colocada no manual do funcionário ou em uma placa na sala de conferências. Ela existe para definir os parâmetros das estruturas e metodologias que a empresa emprega na execução da missão.

Igualmente, para determinar o que é melhor para nossos filhos, precisamos começar considerando nosso objetivo final. Toda família precisa de uma declaração de missão.

Todos os pais cristãos desejam criar filhos que confiam em Cristo para sua salvação e vivem comprometidos com ele. Toda igreja deseja discipular crianças que cresçam para serem servas fiéis de Cristo. No entanto, para estabelecer a melhor maneira de atingir esses objetivos, precisamos ter uma visão bíblica do que estamos tentando realizar.

Talvez o melhor lugar para começar seja com a principal confissão de fé que Deus deu ao seu povo no Antigo Testamento. Conhecido como ‘Shema’, a partir da primeira palavra em hebraico – “Ouça” – esta declaração resume um modelo valioso sobre o significado de ser um verdadeiro seguidor de Deus:

Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor.
Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças.
E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração;

Dt 6.4-6

Conhecer a Deus

A confissão judaica começa com a exigência de acreditar em algumas declarações. A primeira das afirmações é que o Senhor, o Deus da Escritura, é o nosso Deus. Nós acreditamos nele, nós o afirmamos como nosso Deus e confiamos nele. Mas então Moisés acrescenta uma qualificação adicional. O Senhor não é apenas nosso Deus, ele é o único Deus. Existe um e somente um Deus vivo e verdadeiro. Em outras palavras, apenas um ser em todo o universo merece ser adorado. O único Deus verdadeiro é o Senhor, o Deus da Bíblia.

A raiz de nossa vontade para a vida de nossos filhos é que eles realmente saibam disso. Queremos que eles conheçam a Deus, acreditem nele e confiem nele. Queremos que eles saibam que Ele os criou e o que fez ao longo da história. Queremos que saibam que Deus exige obediência perfeita e não tolera o pecado. Esse mesmo desejo transmite nossa intenção de dar-lhes ensino bíblico para que entendam a verdade de Deus.

O Novo Testamento, é claro, acrescenta a revelação completa essencial para a salvação, que é que Jesus Cristo: “o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por [ele]” (João 14:6). Jesus é Deus e homem e, portanto, conhecê-lo é a única maneira de conhecer verdadeiramente a Deus. Nossos filhos precisam ser ensinados que, uma vez que o pecado merece julgamento eterno e nos impede de ter comunhão com Deus, eles devem vir a Deus por meio de Cristo, que morreu para pagar a penalidade que o pecado merece. Precisamos ensiná-los que aqueles que se arrependem de seus pecados e confiam somente em Cristo para sua salvação serão perdoados de seus pecados e receberão a vida eterna.

É por isso que a Palavra de Deus deve ser a primazia na vida de nossos filhos desde a mais tenra idade. Isso aconteceu com Timóteo, sobre quem Paulo disse: “Desde a infância você conhece as sagradas letras, que podem torná-lo sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (2 Timóteo 3:15). A avó e a mãe de Timóteo haviam transmitido fielmente a verdade sobre o Deus das Escrituras para ele quando criança (1:5).

Os filhos precisam de ensino bíblico regular, assim como os adultos, e o fato é que as crianças muitas vezes podem compreender mais verdade do que pensamos. Certamente algumas verdades teológicas mais profundas podem ser desafiadoras para uma criança compreender, mas devemos ensinar as verdades centrais das Escrituras a nossos filhos desde a mais tenra idade, para que eles venham a conhecer verdadeiramente a Deus.

Obedecer a Deus

O contexto imediato da confissão missional judaica em Deuteronômio 6 é a entrega da Lei ao povo de Israel, os “estatutos e regras” que Deus deu a Moisés. Deus exigia algumas posturas de seu povo, e sua adesão a esses requisitos resultaria em bênção ou maldição. No versículo 3, Moisés disse a eles para serem cuidadosos em obedecer . Deus havia dito em Deuteronômio 28:1: “Se ouvires fielmente a voz do Senhor teu Deus, tendo o cuidado de cumprir todos os seus mandamentos que hoje te ordeno, o Senhor teu Deus te exaltará sobre todas as nações da terra.” “Mas”, advertiu-os, “se não obedecerdes à voz do Senhor vosso Deus, nem tiverdes cuidado de cumprir todos os seus mandamentos e estatutos que hoje vos ordeno, então todas estas maldições virão sobre vós e vos alcançarão”. (v. 15).

Igualmente, se queremos que nossos filhos obedeçam a Deus. Devemos demonstrar a eles o que significa viver para Cristo, ser santo, abandonar o pecado e viver em retidão. Sabemos que uma vida de pecado desagrada ao Senhor e trará consequências dolorosas até mesmo para um cristão. Precisamos ensinar nossos filhos que “o Senhor corrige a quem ama” (Hb 12:6) e as bênçãos vêm para aqueles que fazem o que foram chamados para fazer (1 Pedro 3:9).

Desde que nossos filhos tinham idade suficiente para falar, minha esposa e eu os ensinamos a responder a duas perguntas sobre o seu comportamento. “O que a obediência traz?” nós perguntávamos.

“Bençãos”, eles respondiam.

“O que a desobediÊncia traz?”

“Castigo”

As crianças precisam saber que toda atitude tem consequência.

Repetindo, a melhor maneira de ajudar nossos filhos a viver em obediência a Deus é dar-lhes a Sua Palavra. Nenhuma criança é jovem demais para uma exposição frequente das Escrituras.

Amar a Deus

Entretanto, conhecer e até mesmo acreditar em informações sobre Deus não é suficiente. O mandamento central da confissão judaica, citado pelo próprio Jesus como o maior mandamento, é “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças” (Marcos 12: 28–30).

Amar a Deus está no centro do que significa conhecer verdadeiramente a Deus. Muitas pessoas conhecem e até acreditam em fatos sobre Deus. “Até os demônios acreditam – e estremecem!” Tiago nos diz (2:19). O que diferencia uma pessoa que simplesmente conhece a Deus e outra que realmente conhece a Deus é o amor por ele.

Além disso, a obediência a Deus não vem simplesmente por meio do conhecimento da informação correta, ela flui de conhecer e amar a Deus. A Escritura ensina que o fruto do verdadeiro conhecimento de Deus e do amor por ele é a obediência aos seus mandamentos. Jesus disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (João 14:15), e “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (15:14).

O reconhecimento de que a direção de nosso coração – nossas afeições – é central para um verdadeiro relacionamento com Deus deve impactar significativamente o que desejamos em relação a formação espiritual de nossos filhos. Devemos querer que eles conheçam e obedeçam a Deus e, para que isso aconteça, precisamos ter certeza de que eles realmente amam a Deus.

Esses três fatores juntos – conhecer a Deus, amar a Deus e obedecer a Deus – são a essência do que significa adorar a Deus. A confissão de fé judaica é um chamado para adorar o único Deus vivo e verdadeiro exclusivamente. Fazendo com toda a mente de uma pessoa (crenças), vontade (obediência) e afeições (amor).

Em outras palavras, a maior missão do povo de Deus é a adoração.

A responsabílidade dos pais

Esse objetivo central da adoração é verdadeiro, é claro, para todos os discípulos de Cristo, não apenas para as crianças. Mas observe o que Moisés diz ao povo logo após fazer esta confissão básica:

E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração;
E as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te.
Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por frontais entre os teus olhos.
E as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas.

Dt 6.6-9

Deus ordenou a seu povo que transmitisse fervorosamente a seus filhos esse princípio central de seu relacionamento de aliança com Deus, incluindo crenças verdadeiras sobre Deus, um amor grandioso por Ele e uma vida de obediência a seus mandamentos. Isso não acontece sem propósito e intenção. Isso requer mais do que apenas períodos de instrução formal. Para criar filhos, para conhecer a Deus, amar a Deus e obedecer a Deus, os pais — e, de fato, toda a comunidade do povo de Deus — deve fazer dessas ênfases uma parte integral da vida cotidiana.

No Novo Testamento, o principal mandamento aos pais é: “Pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e admoestação do Senhor” (Efésios 6:4). O mandamento não é dado a pastores, professores de escola dominical ou líderes de jovens– é dado aos pais. Deus espera que os pais prestem muita atenção em criar o filho para conhecê-Lo, amá-Lo e obedecê-Lo — para adorá-Lo.

A responsabílidade comunitária

Deus dá essas responsabilidades para com os filhos em primeiro lugar aos pais, mas os pais cristãos não devem fazer isso sozinhos. Pelo contrário, os pais cristãos precisam de uma comunidade de outros cristãos para ajudar no discipulado de seus filhos. Isso não significa delegar sua responsabilidade ordenada por Deus a pastores ou professores “especializados”; significa que os pais discipularam seus filhos de maneira bem sucedida dentro do contexto da igreja local.

Tito discute especificamente como esse tipo de discipulado ocorre na comunidade – a igreja local. Os homens mais velhos devem ensinar os homens mais jovens, e as mulheres mais velhas devem treinar as mulheres mais jovens e as crianças (Tito 2:2–6). É assim que Cristo projetou sua igreja: um corpo diversificado de crentes dotados de uma variedade de habilidades para que toda a comunidade seja encorajada e edificada “até a maturidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4. 4). :13).

Esse tipo de discipulado cristão comunitário acontece melhor na reunião de adoração pública da igreja. Pessoalmente, não acredito que seja sempre errado ter horários de ensino específicos para a idade de vez em quando, mas transformar crianças em adoradores maduros acontece melhor no culto corporativo intergeracional. Na adoração coletiva, as crianças encontram Deus à medida que sua Palavra é lida e ensinada, passando a conhecê-lo. No culto da igreja, o coração das crianças é voltado para Deus quando elas testemunham seus pais e outras pessoas na congregação respondendo à Palavra de Deus com o coração por meio de oração e música. Nesse ambiente, elas podem crescer em maturidade espiritual e obediência aos mandamentos de Cristo por meio da exposição repetida a cristãos fiéis e maduros.

Alguns pais podem querer que seus filhos estejam com eles no culto principal, em vez de reuniões separadas, porque não querem que ninguém mais influencie seus filhos. A imagem bíblica é exatamente oposta: quero meus filhos comigo na adoração corporativa porque a melhor maneira de eles crescerem em maturidade cristã é estarem regularmente entre outros adultos cristãos maduros para adorarem o Santo Deus.

Nota: Esse artigo foi um trecho do livro de Scott Aniol: “Let the Little Children Come: Family Worship on Sunday, and the Other Six Days, Too”.-Deixai vir a mim as crianças no Domingo e nos outros seis dias também. (ainda indisponível em português).

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Scott Aniol | Brasil

Scott Aniol, PHD, é o vice presidente executivo e o editor chefe do ministério G3. Ele é palestrante internacional, atuando em diversas igrejas, conferencias, faculdades, e seminários. Scott já escreveu diversos livros e dezenas de artigos.

Você pode saber mais a respeito dele em www.scottaniol.com Scott e sua esposa, Becky, tem quatro filhos. Caleb, kate, Christopher e Caroline.