A Habitação e Iluminação do Espírito Santo

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Não é nenhum segredo que a obra do Espírito Santo hoje é uma das doutrinas mais mal compreendidas, e é certamente o caso no que diz respeito ao que o Espírito faz diariamente na vida de um cristão.

Quando os cristãos pensam na obra do Espírito Santo, geralmente pensam em obras milagrosas, mas a obra mais proeminente do Espírito mencionada no Novo Testamento é a santificação dos crentes. Nas Escrituras, a Bíblia retrata a obra do Espírito Santo como a de coordenar o plano e o povo de Deus, e isso é verdade no que diz respeito à “ordem moral” que Ele realiza na vida dos cristãos diariamente. Esta direção começou com a salvação e continua com a obra de santificação do Espírito frequentemente mencionada (Romanos 15:16, 1 Coríntios 6:11, 2 Tes 2:13, 1 Pedro 1:2). Depois da própria salvação, a obra de santificação do Espírito é a Sua obra mais significativa nesta era.

Por que os cristãos estão tão confusos sobre a obra do Espírito e tão apaixonados pelas suas obras milagrosas? Muitos não sabem o que o Espírito está fazendo para santificá-los. Esta é uma questão sobre sua obra de habitação e iluminação.

Habitação

A presença do Espírito começa na conversão e continua permanentemente ao longo da vida de um crente. A habitação do Espírito auxília a garantir que somos filhos de Deus, mas também se refere à obra do Espírito pela qual o nosso ser interior é continuamente “fortalecido com poder” (Ef 3:16). Através da habitação do Espírito, somos capazes de amar a Cristo como Ele merece, resistir ao pecado e crescer em santidade. É por isso que Paulo ora no final de Efésios 3:

Por causa disso, me ponho de joelhos perante o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome, para que, segundo as riquezas da sua glória, vos conceda que sejais corroborados com poder pelo seu Espírito no homem interior; para que Cristo habite, pela fé, no vosso coração; a fim de, estando arraigados e fundados em amor, poderdes perfeitamente compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade e conhecer o amor de Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus. (Efésios 3:14-19).

A habitação do Espírito começa na conversão e continua permanentemente ao longo da vida do crente.

Este ministério do Espírito, como Paulo indica em Efésios 3, resulta na organização da vida do crente. O fato de nossos corpos serem templos do Espírito é tanto o meio pelo qual podemos combater o pecado, como um importante motivador para o fazermos ativamente. Como Paulo adverte:

Fugi da prostituição. Todo pecado que o homem comete é fora do corpo; mas o que se prostitui peca contra o seu próprio corpo. Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos? (1 Coríntios 6:18,19).

O ministério interior do Espírito também faz dele um auxiliador para o crente. Jesus descreveu o Espírito como o “Auxiliador” e “Consolador” (Jo 14:16, 26). Da mesma forma, Paulo nos diz que quando estamos desesperadamente fracos e necessitados, a ponto de gemermos em oração, sem saber exatamente o que pedir, o Espírito intercede em nosso favor (Romanos 8:26-28).

Iluminação

Tal como acontece com a regeneração no momento da conversão, a presença contínua do Espírito envolve a obra da iluminação. Uma maneira incorreta de vermos esta obra do Espírito Santo é acreditar que Ele nos auda a entender o significado das Escrituras ou nos ajuda a compreender o significado da Bíblia.

Não é isso que significa iluminação. Entretanto não devemos esperar que o Espírito fale conosco fora das Escrituras. Então, o que os teólogos querem dizer quando falam sobre iluminação espiritual?

Embora o termo iluminação não apareça nas Escrituras, ele descreve a obra do Espírito em relação à Sua Palavra na vida do crente. A iluminação começa na conversão com a regeneração, o que envolve o Espírito iluminando as nossas mentes e abrindo os nossos olhos para a beleza do Evangelho e a Autoridade da Palavra, em vez de nos dar uma visão ou compreensão especial do significado da Bíblia em si. A iluminação começa na conversão como resultado da obra de regeneração do Espírito e da sua presença residente, e continua durante toda a vida do crente como um meio necessário de santificação.

Um texto que se refere a benção para os crentes daquilo que podemos chamar de iluminação é Efésios 1:16–23. Paulo usa especificamente a frase “tendo iluminados os olhos do vosso entendimento” (v. 18). E qual é o resultado de tal iluminação? O resultado é que os crentes continuam a reconhecer o valor e a autoridade da verdade da revelação de Deus para as suas vidas.

Eu não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando-me de vós nas minhas orações, para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação, tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos e qual a sobre-excelente grandeza do seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do seu poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-o dos mortos e pondo-o à sua direita nos céus, acima de todo principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro. E sujeitou todas as coisas a seus pés e, sobre todas as coisas, o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos. (Efésios 1:16-23).

Nenhuma nova revelação é concedida, antes, a iluminação faz com que os crentes aceitem a Palavra de Deus como ela é – a revelação suficiente e autoritativa de Deus.

Nenhuma nova revelação é concedida, antes, a iluminação faz com que os crentes aceitem a Palavra de Deus como ela é – a revelação suficiente e autoritativa de Deus.

Em Filipenses 3:15, Paulo diz aos crentes: “Pelo que todos quantos já somos perfeitos sintamos isto mesmo; e, se sentis alguma coisa doutra maneira, também Deus vo-lo revelará”. Aqui, também, “revelará” não se refere a novos conhecimentos, mas a um tipo de maturidade espiritual que corretamente se submete e se apropria da revelação escrita de Deus. Da mesma forma, em Colossenses 1:9, Paulo ora para que os crentes “sejam cheios do conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e entendimento espiritual”. Novamente, isto não se refere a uma nova revelação ou mesmo à compreensão intelectual, mas antes ao reconhecimento espiritual do significado da Palavra de Deus na vida do crente e à capacidade de se apropriar corretamente da Palavra de Deus.

Estes textos não descrevem o Espírito Santo dando aos crentes uma nova revelação ou mesmo um novo significado de um texto bíblico. Como argumenta Carl Henry:

O Espírito ilumina a verdade, não ao revelar algum conteúdo místico interior oculto por trás da revelação. Ele apenas dsestaca a verdade da revelação como ela é. O Espírito ilumina e interpreta repetindo o sentido gramatical das Escrituras, ao fazer isso, Ele de forma alguma altera ou expande a verdade da revelação.

O ponto principal é que as Escrituras são suficientes para a nossa santificação. O Espírito revelou as coisas de Deus a homens específicos que escreveram as Palavras das Escrituras (1Co 1:10). O significado das Escrituras está no texto, e é auto-autenticado, suficiente e confiável. Nossa responsabilidade é simplesmente aplicar a Palavra às nossas vidas.

A iluminação não significa que recebemos uma nova compreensão do texto. Em outras palavras, a iluminação não elimina a necessidade de estudo diligente para compreender as Escrituras – ela não nos dá entendimento no sentido intelectual. Ainda devemos nos esforçar para compreender o significado das Escrituras. Como Paulo disse a Timóteo, devemos nos esforçar diligentemente para que possamos “manejar corretamente a Palavra da verdade” (2 Timóteo 2:15).

A iluminação significa que as nossas mentes iluminadas continuam a reconhecer as Escrituras como a revelação de Deus ao longo das nossas vidas. Um cristão iluminado pelo Espírito não duvida do conteúdo que Deus escreveu, embora tenha que lutar para compreender intelectualmente o significado do que está escrito.

Iluminação significa que as nossas mentes iluminadas continuam a reconhecer as Escrituras como a revelação de Deus ao longo das nossas vidas. Um cristão iluminado pelo Espírito não duvida do conteúdo que Deus escreveu, embora tenha que lutar para compreender intelectualmente o significado do que está escrito.

A iluminação do Espírito também nos faz reconhecer que o que lemos na Palavra de Deus tem autoridade para nós. Visto que os nossos corações iluminados reconhecem a Bíblia como a revelação de Deus que é verdadeira e bela, sabemos que ela tem autoridade sobre nós. Estas não são simplesmente palavras abstratas de Deus, são palavras às quais devemos obedecer.

A iluminação não nos revela o significado de um texto bíblico, mas faz-nos reconhecer o significado das Escrituras para as nossas vidas. Calvino observa que “pela iluminação interior do Espírito Ele faz com que a Palavra pregada habite nos corações dos crentes.” Porque um crente iluminado reconhece a veracidade e a beleza da Palavra, ele também reconhece quão importante é aplicá-la intencionalmente à sua vida.

Entretanto, as formas específicas pelas quais devemos aplicar a Palavra de Deus às nossas vidas não nos serão de alguma forma “reveladas”, através de revelação direta, de uma “voz mansa e suave” ou de alguma compreensão inadequada de iluminação. Nós já fomos iluminados e essa iluminação está em curso, devemos agora nos esforçar arduamente para discernir as maneiras pelas quais as nossas vidas precisam mudar como resultado da Palavra de Deus. Ela é suficiente.

Paulo orou em Colossenses 1:9 e nós devemos orar por “sabedoria e entendimento espiritual”, isto é, a capacidade dada por Deus para aplicar corretamente a Palavra de Deus às nossas vidas. E ele nos dará essa sabedoria. Mas a sabedoria espiritual significa que seremos capazes de aplicar corretamente a Palavra, mas não significa que o Espírito irá aplicá-la a nós. O Espírito nos dá sabedoria, Ele não nos dá nova revelação. Como diz 1 Coríntios 2:14, pelo Espírito os crentes são capacitados a “aceitar as coisas do Espírito de Deus”.

A iluminação não nos revela o significado de um texto bíblico, mas faz-nos reconhecer o significado das Escrituras para as nossas vidas.

Finalmente, um crente iluminado submeter-se-á voluntariamente à revelação autoritativa de Deus. Este é o resultado natural de tudo o que explicamos. Os crentes reconhecem a Bíblia como a revelação verdadeira, bela, autoritativa e significativa de Deus, e como os nossos corações foram iluminados, desejamos obedecê-la.

Isto não quer dizer que obedeceremos perfeitamente ou que não lutaremos contra o pecado. Mas o mesmo Espírito que iluminou os nossos corações na conversão também nos convence do pecado e, no final do dia, todos os verdadeiros crentes tornar-se-ão progressivamente mais e mais santificados à medida que se submeterem à autoridade das Escrituras.

Em resumo, poderíamos definir a iluminação como “aquela atividade especial do Espírito Santo pela qual o homem pode reconhecer que o conteúdo da Escritura é verdadeiro, e pode assim aceitar e apropriar-se do seu ensino”.

Louvado seja Deus pela obra sobrenatural da iluminação do seu Espírito em nossos corações. Sem ela, não seríamos capazes de aceitar as obras do Espírito de Deus, não as reconheceríamos como a revelação verdadeira e autoritativa de Deus, e não nos submeteríamos voluntariamente a elas.

No momento da nossa conversão, nossos corações foram iluminados para as verdades de Deus, aceitamos sua Palavra escrita como a revelação de Deus, e nos esforçamos diligentemente para aplicar as verdades nela contidas, pois é Deus quem opera em nós, tanto o querer, quanto o efetuar segundo a sua boa vontade (Fp 2:13).

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Scott Aniol | Brasil

Scott Aniol, PHD, é o vice presidente executivo e o editor chefe do ministério G3. Ele é palestrante internacional, atuando em diversas igrejas, conferencias, faculdades, e seminários. Scott já escreveu diversos livros e dezenas de artigos.

Você pode saber mais a respeito dele em www.scottaniol.com Scott e sua esposa, Becky, tem quatro filhos. Caleb, kate, Christopher e Caroline.