Santo Espírito, és bem-vindo aqui: A Pentecostalização da Adoração Evangélica

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“Ah! O louvor da Igreja é muito formal, eu prefiro o mover do Espírito”.

Eu ouvi esse comentário de um jovem crente descrevendo o culto de adoração de sua igreja, ilustrando uma percepção muito comum de muitos evangélicos hoje – se o Espírito Santo opera ativamente na adoração, os resultados serão extraordinários, tal experiência seria “apagada” por excesso de ordem e decência.

Mas esta expectativa é mais presente do que simplesmente na adoração. Se você perguntasse ao cristão comum hoje qual deveria ser a nossa expectativa em relação à forma como o Espírito Santo opera, acredito que a maioria dos cristãos responderia algo assim: Se o Espírito Santo operar ativamente, seu trabalho será evidenciado por algum tipo de experiência extraordinária. — sentimentos intensos, emoções fortes, dons sobrenaturais ou até mesmo manifestações visíveis.

Portanto, esta expectativa assume uma variedade de formas, mas provavelmente a mais predominante se refira a adoração.

Adoração Extravagante

Indiscutivelmente, a expectativa comum dos adoradores evangélicos contemporâneos é que o Espírito Santo atue na adoração de tal maneira que crie uma experiência extraordinária, bem expressa na popular canção de adoração de Bryan e Katie Torwalt (interpretada por Laura Souguellis no Brasil):

Santo Espírito és bem vindo aqui
Vem inundar, encher este lugar
É o desejo do meu coração
Sermos inundados por Tua Glória, Senhor

Muitos teólogos e autores que ajudaram a influenciar o culto evangélico contemporâneo incorporam um entendimento que a obra principal do Espírito Santo é a de tornar conhecida a presença de Deus. Por exemplo, Wayne Grudem argumenta: “A obra do Espírito Santo é manifestar a presença ativa de Deus no Mundo, e especialmente na Igreja. . . . Parece ser um dos seus propósitos principais na era da Nova Aliança”, continua Grudem: “é manifestar a presença de Deus, dar indicações que tornem a presença de Deus conhecida. . . . Andar no Espírito Santo é realmente estar em uma atmosfera da presença manifesta de Deus.” Zac Hicks concorda: “O Espírito Santo tem a tarefa de manifestar a Sua presença para nós.” Bob Kauflin acredita que “Existem momentos que nos tornamos inesperadamente conscientes da presença do Senhor de forma mais intensa. Uma súbita onda de paz toma conta de nós. Uma alegria irreprimível surge das profundezas da nossa alma.” “Nenhum de nós”, insiste Kauflin, “deveria estar satisfeito com a nossa experiência da presença e do poder do Espírito”.

Indiscutivelmente, a expectativa comum dos adoradores evangélicos contemporâneos é que o Espírito Santo opere no louvor de tal maneira que crie uma experiência extraordinária.

Esta expectativa certamente não é nova; teólogos como John Owen e Jonathan Edwards dirigiram-se aos “extravagantes” religiosos da sua época. Entretanto, a doutrina contemporânea está enraizada em uma teologia pentecostal da obra do Espírito Santo. Em seu perspicaz Concise History of Contemporary Worship, Lovin’ on Jesus (História Concisa da Adoração Contemporânea), Swee Hong Lim e Lester Ruth demonstram convincentemente que o pentecostalismo, com sua “revisão de uma ênfase do Novo Testamento na presença ativa e no ministério do Espírito Santo”, é uma das cinco fontes-chave do culto moderno. Eles sugerem que “a influencia do culto contemporâneo pelo Pentecostalismo tem sido tanto através do seu próprio desenvolvimento interno, como através de uma influência de outros evangélicos na forma de culto”. Aqui está um pouco do culto contemporâneo:

  1. Físico e expressivo na adoração;
  2. A intensidade é uma virtude litúrgica;
  3. Expectativa de experiência às formas de culto contemporâneo;
  4. uma sacramentalidade musical [que] aumenta a importância do grupo de louvor, bem como dos músicos que o lideram.

Eles explicam: “O Pentecostalismo contribuiu para a sacramentalidade do culto contemporâneo, isto é, tanto a expectativa de que a presença de Deus pode ser encontrada no culto, quanto os meios pelos quais esse encontro acontece”, criando uma “expectativa de encontrar Deus, ativo e presente através do Espírito Santo”. ”Daniel Albrecht concorda: “A presença do Espírito Santo é fundamental para uma perspectiva pentecostal de adoração. A convicção de que o Espírito está presente no louvor é uma das crenças mais profundas na visão litúrgica pentecostal. A expectativa da presença do Espírito é muitas vezes palpável na liturgia. . . . Os seus ritos litúrgicos e sensibilidades os motivam a tornarem-se conscientemente presentes diante de Deus – especialmente porque se espera que a presença de Deus se torne real na adoração.”

Monique M. Ingalls concorda com esta avaliação após seus dez anos de estudo (2007 a 2017) de adoração contemporânea em vários ambientes diferentes. Ela observa a conexão entre a centralidade da música de adoração contemporânea e o desejo dos adoradores de experimentar “um encontro pessoal com Deus durante o canto congregacional.”

Na verdade, a experiência da presença ativa do Espírito Santo está diretamente ligada à música, especificamente ao “ambiente” da expressão emocional da música na adoração. Hicks sugere: “Parte de liderar o culto de adoração. . . envolve manter a consciência da presença real e permanente de Deus diante de seus adoradores. À medida que todos os elementos da adoração acontecem, o elemento mais importante – a experiência verdadeira – é a presença do próprio Espírito Santo.” Esse tipo de prática, de acordo com Hicks: “reside na compreensão e na orientação da progressão emocional do seu culto de adoração”. .”O objetivo e a expectativa de que qualquer culto de adoração, de acordo com Barry Griffing, “busca levar os adoradores congregacionais a uma consciência coletiva da presença manifesta de Deus.” James Steven observa: “Ao investir bastante em sinais específicos da presença do Espírito”, como padrões de comportamento, os membros da igreja definem o Espírito pela medição empírica de fenômenos particulares, que, se ausentes, implicam que o Espírito não está ali’.

Para os pentecostais e continuístas, esta expectativa inclui dons milagrosos, como línguas e profecias, mas mesmo para outros evangélicos que não mantêm uma posição continuísta sobre dons milagrosos, a expectativa padrão é que o Espírito Santo manifestará a presença de Deus de forma extraordinária como um fenômeno intenso de euforia emocional.

Portanto, a adoração na qual o Espírito Santo está diretamente ativo está muitas vezes necessariamente ligado à espontaneidade e à “liberdade” de adoração. O louvor estruturado e regulamentado não é “conduzido pelo Espírito” nesta perspectiva. Como observam Lim e Ruth, a maior parte da adoração contemporânea, influenciado pela obra do Espírito Santo na adoração, considera “a extravagância como uma marca de adoração que é o verdadeiro mover do Espírito Santo, isto é, adoração em Espírito e verdade”. (João 4:24). Esta visão de extravagância”, observam eles, “tem sido amplamente defendida nas formas de adoração da Igreja atual”. Albrecht observa que a adoração pentecostal tornou-se a expectativa da maior parte do meio evangélico.

Em meio à extravagância, pode ocorrer um encontro com o Espírito Santo. Os pentecostais encaram tais encontros como parte integrante da experiência de adoração. Embora uma experiência avassaladora ou avassaladora do/no Espírito não seja rara nem rotineira para um adorador pentecostal em particular, a dimensão experiencial da adoração é fundamental. A visão litúrgica vê Deus presente no culto; Conseqüentemente, os pentecostais raciocinam que uma experiência direta com Deus é semanal.

Esta expectativa está claramente incorporada na teologia carismática, mas mesmo com carismáticos mais moderados, ou não-carismáticos que descrevo como “pentecostalizados”, Existe uma certa expectativa de que, em um culto de adoração, o Espírito Santo de Deus se manifestará de forma observável e tangível. Caso não sintamos algo intenso, se não temos uma experiência autêntica, então algo está errado.

Esta teologia da adoração começou no pentecostalismo, mas agora se expandiu para outros grupos, que não necessariamente afirmam a teologia pentecostal de dons espirituais, e passou a caracterizar a adoração contemporânea.

A questão mais importante é como esta expectativa se compara aos ensinamentos da Sagrada Escritura.

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Scott Aniol | Brasil

Scott Aniol, PHD, é o vice presidente executivo e o editor chefe do ministério G3. Ele é palestrante internacional, atuando em diversas igrejas, conferencias, faculdades, e seminários. Scott já escreveu diversos livros e dezenas de artigos.

Você pode saber mais a respeito dele em www.scottaniol.com Scott e sua esposa, Becky, tem quatro filhos. Caleb, kate, Christopher e Caroline.