O Evangelho se forma ao cantarmos os Salmos

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O tratamento que o Novo Testamento dá aos Salmos deixa muito claro que eles dizem a respeito do homem mais bendito de todos, o Rei da Glória que abre as portas do Céu para todos que colocam a sua confiança nEle e Ele se coloca como seu mediador e intercessor.

O tratamento que o Novo Testamento dá aos Salmos deixa muito claro que eles dizem a respeito do homem mais bendito de todos, o Rei da Glória que abre as portas do Céu para todos que colocam a sua confiança nEle e Ele se coloca como seu mediador e intercessor.

Em outras palavras, os salmos englobam o Evangelho. Porém os Salmos não descrevem simplesmente o Evangelho, eles moldam o Evangelho em nossos corações, formatando a nossa imaginação a uma vida verdadeiramente abençoada e desejosamente submissa ao Rei da Glória.

Os salmos englobam o Evangelho. Porém os Salmos não descrevem simplesmente o Evangelho, eles moldam o Evangelho em nossos corações, formatando a nossa imaginação a uma vida verdadeiramente abençoada e desejosamente submissa ao Rei da Glória.

Revelação

O Evangelho começa com Deus se revelando como Santo Criador e Juiz e nós como pecadores merecedores da Sua Ira. Como o Salmo 14 explica, não há quem busque a Deus. A única forma dos pecadores virem ao conhecimento de Deus é se Deus tomar a iniciativa do encontro ao Se revelar. É por isso que a revelação de DeusA Lei do Senhor-é tão assertivamente importante no Livro de Salmos. O homem verdadeiramente bendito meditará na Lei de Deus, permitirá que a Palavra de Deus forme a Sua imagem de quem Deus é e o que Ele espera.

Essa revelação de Deus não é somente importante para trazer pecadores ao conhecimento salvifíco de Deus, no entanto, deleitar-se na Palavra de Deus continua a ser bastante importante para aos crentes. O Santo Espírito efetivamente desperta o coração do crente para ver “coisas maravilhosas” da Sua Palavra (Sl 119.18), mas como os salmos deixam claro, os crentes ainda tem de lutar contra o pecado dentro de si e as tentações de andar no conselho dos ímpios. Portanto, nós continuamente precisamos que a Palavra de Deus nos revele mais de Deus para nós, para nos admoestar e corrigir, e também encorajar e incentivar a continuarmos no caminho da luz.

Confissão e Propiciação

Como o Salmo 19 evidencia, deleitar-se na Palavra de Deus leva a confissão. Depois que um pecador reconhece a santidade e a justiça de Deus, o Evangelho continua com arrependimento, confiança no perfeito Rei/Sacerdote e seu sacrifício em nosso lugar. Esse tipo de arrependimento deveria continuar a ser característico na vida de pecadores perdoados.

Algumas vezes os cristãos hoje resistem a ideia de que eles precisam confessar os seus pecados para Deus agora que eles são eternamente justificados pela fé no sacrifício de Cristo. Eles sabem que arrependimento é necessário à salvação, mas agora que eles foram perdoados, os cristãos realmente não precisam mais da confissão? Talvez essa resistência é uma das razões pelas quais os cristãos  hoje evitem cantar os salmos que se concentram no pecado e confissão. Uma vez um pastor me disse que estava procurando no hinário um hino que fosse sobre arrependimento para acompanhar o seu sermão sobre o tema, e ele não conseguiu achar nenhum. Nós fomos perdoados pelo sangue de Cristo! Certamente nós não precisamos mais confessar o nosso pecado, certo?

Considere, no entanto, o fato de que quase todos os salmos de confissão foram escritos por Davi. Qual era a condição espiritual de Davi quando ele escreveu esses Salmos? Ele era um descrente que precisava ser justificado?

Bem, nós não temos que ficar sem resposta. Paulo deixa claro em Romanos 4 que Davi era um daqueles cuja fé foi “imputada por justiça”, e então Paulo cita as próprias palavras de Davi:

Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, E cujos pecados são cobertos.Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado.

Essa é uma citação do Salmo 32, um dos salmos de confissão de Davi. Ele reconhece o seu pecado e confessa a sua transgressão diante do Senhor à luz do fato de que ele é “aquele à quem Deus não imputa iniquidade” (vs2). Como um homem perdoado, ele confessa seu pecado porque ele é justificado.

Nesse sentido, não somos diferentes de Davi. Só porque Davi viveu em uma época anterior à de Cristo, isso não significa que ele foi justificado de uma maneira diferente da que somos hoje. Esse é todo o ponto de Paulo em Romanos 4-Davi foi justificado por fé no sacrifício expiatório de Seu grande filho, assim como nós somos. Como o Salmo 110 deixa claro, Davi sabia que Cristo estava vindo e que Ele seria seu redentor e sacerdote.

Nós somos salvos da mesma forma que Davi foi, e assim como Davi, nós devemos continuamente confessar os nossos pecados ao Senhor mesmo depois de termos sido perdoados.

Nós somos salvos da mesma forma que Davi foi, e assim como Davi, nós devemos continuamente confessar os nossos pecados ao Senhor mesmo depois de termos sido perdoados. O novo testamento por si só descreve a confissão dos crentes. Pedro “saiu e chorou amargamente” depois que ele negou a Cristo, chorando pelo seu pecado (Lc 22.62) Paulo confrontou o pecado na Igreja de Corinto regozijando-se porque suas palavras os levaram à tristeza por seus pecados “de maneira piedosa” que os levou ao arrependimento (2 Coríntios 7:9–11). Quando João escreveu: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1 João 1:9), ele estava escrevendo para crentes que já foram justificados. Na verdade, ele continua dizendo que se não reconhecermos nosso pecado, isso apenas prova que não somos realmente crentes (v 10). Tudo isso revela que nós, cristãos, devemos, de fato, confessar regularmente nossos pecados ao Senhor – como Davi admoesta: “todo aquele que é santo orará a ti, a tempo de poder te achar” (Sl 32:6).

É por isso que continuamos a precisar dos salmos  de confissão para formatar os nossos corações, para regularmente nos moldar para sermos o povo que  se arrepende. Esses salmos continuamente nos lembram que o Senhor é “bom, e pronto a perdoar, e é abundante em misericórdia para com todos que o invocam” (Sl 86.5). O perdão é possível para todos que confessam o seu pecado através do sacrifício expiatório do filho ungido de Deus, Jesus Cristo.

Confiança e Ação de graças

Aquele que foi perdoado do pecado responde com confiança e ação de graças, que, como o fluxo canônico dos salmos incorpora, é um caminho necessário do lamento pelo pecado e da maldade para o louvor. A estimulação artificial que ignora as realidades de um mundo amaldiçoado pelo pecado é insuficiente para cultivar o verdadeiro e profundo louvor no coração de um crente. Somente quando reconhecermos quem Deus é como o Rei benevolente, bem como todas as suas múltiplas bênçãos para nós, responderemos com o tipo de confiança e ação de graças necessárias para nos levar a verdadeiramente louvar o Senhor.

Por esta razão, salmos que expressam confiança confiante em Deus e ação de graças por seus benefícios são abundantes. Na verdade, quase todos os salmos de confissão e lamento incluem pelo menos um elemento de ação de graças e confiança dentro deles. Toda confissão e lamento bíblicos necessariamente nos levarão à ação de graças e à confiança. Não naufragamos em nosso pecado e medo; em vez disso, como os salmos incorporam, o reconhecimento adequado do pecado dentro de nós e ao nosso redor nos leva a fugir para o único que pode perdoar nossos pecados e nos proteger da adversidade – o Senhor Deus Todo-Poderoso.

Após chorar por causa da depravação humana (Sl 14) e seu próprio fracasso em subir ao Santo monte do Senhor (Sl 15), Davi suplica com confiança em Deus, “Guarda-me, ó Deus, porque em ti confio”. (Sl 16.1). Depois de sua oração sincera de confissão (Sl 51) e uma série de lamentos sobre as nações ímpias (Salmos 52-61), Davi confiantemente ora:

A minha alma espera somente em Deus; dele vem a minha salvação.
Só ele é a minha rocha e a minha salvação; é a minha defesa; não serei grandemente abalado. (Sl 62.1-2)

Mesmo no mais escuro dentre os cinco movimentos, os editores incluíram um salmo de ação de graças:

A ti, ó Deus, glorificamos, a ti damos louvor, pois o teu nome está perto, as tuas maravilhas o declaram.
Salmos 75:1

Instrução e Dedicação

Aquele que foi redimido está preparado para ouvir as instruções do Senhor e responder com obediência. Lembre-se, o homem bem-aventurado se deleita na Lei do Senhor (Sl 1.2). Ele medita na Lei do Senhor como Davi fazia:

Mais desejáveis são do que o ouro, sim, do que muito ouro fino; e mais doces do que o mel e o licor dos favos.
Salmos 19:10

O homem bem-aventurado ama a Lei do Senhor e se compromete a obedecê-la. Esse é um tema importante no salmo mais significante da Torah, Salmo 119:

Bem-aventurados os retos em seus caminhos, que andam na lei do Senhor.
Bem-aventurados os que guardam os seus testemunhos, e que o buscam com todo o coração.
E não praticam iniqüidade, mas andam nos seus caminhos.
Tu ordenaste os teus mandamentos, para que diligentemente os observássemos.
Quem dera que os meus caminhos fossem dirigidos a observar os teus mandamentos.
Salmos 119:1-5

O salmista é muito claro ao afirmar que guardar os mandamentos de Deus deve vir antes de qualquer possibilidade de louvor: “Louvar-te-ei com retidão de coração quando tiver aprendido os teus justos juízos”.(Salmo 119.7). Como é infelizmente comum hoje em dia, louvor não é simplesmente uma experiência emocional divorciada de ouvir a Palavra de Deus, aprender os mandamentos de Deus, e buscar uma vida santa. Louvor verdadeiro é possível apenas quando alguém ouve e obedece a Palavra do Senhor.

Louvor não é simplesmente uma experiência emocional divorciada de ouvir a Palavra de Deus, aprender os mandamentos de Deus, é buscar uma vida santa. Louvor verdadeiro é possível apenas quando alguém ouve e obedece a Palavra do Senhor.  

Lamento e Súplica

A importância das orações de lamento e súplica é clara por causa de sua proeminência no Livro dos Salmos. Salmos de lamento ajudam a formar dentro de nós corações adequados em meio a um mundo amaldiçoado pelo pecado. Eles são um passo necessário na progressão em direção ao louvor.

Considere, por exemplo, um dos salmos mais sombrios – o Salmo 137:

Junto aos rios da Babilônia, ali nos assentamos e choramos, quando nos lembramos de Sião.
Sobre os salgueiros que há no meio dela, penduramos as nossas harpas.
Pois lá aqueles que nos levaram cativos nos pediam uma canção; e os que nos destruíram, que os alegrássemos, dizendo: Cantai-nos uma das canções de Sião.
Como cantaremos a canção do Senhor em terra estranha?
Se eu me esquecer de ti, ó Jerusalém, esqueça-se a minha direita da sua destreza. Se me não lembrar de ti, apegue-se-me a língua ao meu paladar; se não preferir Jerusalém à minha maior alegria.
Lembra-te, Senhor, dos filhos de Edom no dia de Jerusalém, que diziam: Descobri-a, descobri-a até aos seus alicerces.
Ah! filha de babilônia, que vais ser assolada; feliz aquele que te retribuir o pago que tu nos pagaste a nós.
Feliz aquele que pegar em teus filhos e der com eles nas pedras.

Um comentarista escreveu sobre o Salmo 137: “A maioria dos salmos é apreciada pelos cristãos. Este não é. Certamente, de todos os salmos da coleção, este é aquele que não tem nenhuma relevância, nenhuma aplicação direta para os cristãos hoje, certo? Pelo contrário, este salmo foi uma oração de importante formatação para aqueles que experimentaram por si mesmos o exílio babilônico. Mas nós também somos o povo de Deus no exílio. Somos cidadãos de outro reino (Fp 3:20) vivendo como exilados em uma terra hostil (1 Pe 1:17, 2:11). Como os hebreus que voltavam do exílio, precisamos desses cânticos de lamento para ajudar a nos levar à ação de graças e ao louvor.

Esse tipo de benefício formativo é o valor de todos os salmos de lamentação e súplica. Deus os deu a nós como um meio necessário para nos levar a agradecê-lo e louvá-lo em meio ao nosso tempo de exílio.

Classificando os Salmos para Adoração

Desde o influente trabalho de Hermann Gunkel no início do século XX, muita atenção tem sido dada à classificação do gênero salmo. Na verdade, eu sugeriria que a ênfase de Gunkel em isolar o gênero de cada salmo é um dos fatores que levaram a uma perda de compreensão sobre o fluxo canônico dos salmos. No entanto, ao considerarmos como devemos usar os salmos na adoração coletiva, familiar e individual, é útil classificar os vários salmos, desde que não percamos a compreensão de como todos eles se encaixam em sequência.

Reconhecer como o Evangelho está inserido nos salmos nos ajuda a ver não apenas seu valor para nosso crescimento e santificação pessoal, mas também sua importância na adoração corporativa. Historicamente, os cultos de renovação da aliança foram moldados pelo evangelho de maneira semelhante à forma como classifiquei os diferentes tipos de salmos acima. Os adoradores começam com o chamado de Deus para adorá-lo, seguido de adoração e louvor. Eles então confessam seus pecados a Ele e recebem a certeza do perdão em Cristo. Eles agradecem a ele por sua salvação, ouvem a pregação de sua Palavra e respondem com dedicação. Os adoradores então oferecem orações de súplica, desfrutam da comunhão na Mesa de Cristo e são enviados de volta ao mundo com a bênção de Deus. Todas as leituras, orações e canções das Escrituras nesta ordem são cuidadosamente escolhidas por sua adequação a uma função específica dentro da estrutura em forma de Evangelho.

É por isso que é útil classificar os salmos com base em sua função no que poderíamos chamar de “liturgia em forma de evangelho”, ou seja, como os salmos individuais funcionam em um culto que nos ajuda a reencenar nosso relacionamento de aliança com Deus por meio de Cristo:

REVELAÇÃO8, 24, 29, 30, 33, 45, 47, 48, 50, 65, 66, 67, 68, 76, 81, 84, 87, 95, 96, 98, 100, 108, 114, 122, 134, 145
ADORAÇÃO
92, 93, 97, 99, 103, 104, 105, 106, 111, 112, 113, 115, 116, 117, 135, 146, 147, 148, 149, 150  
CONFISSÃO E PROPICIAÇÃO6, 14, 15, 25, 32, 38, 39, 40, 41, 51, 102, 130, 143
AÇÕES DE GRAÇA9, 16, 18, 20, 21, 34, 75, 107, 118, 124, 136, 138, 144
INSTRUÇÃO1, 2, 19, 37, 49, 73, 78, 119, 125, 127, 128, 133
DEDICAÇÃO23, 46, 62, 63, 91, 101, 110, 131
SÚPLICA3, 4, 5, 7, 10, 11, 12, 13, 17, 22, 26, 27, 28, 31, 35, 36, 42, 43, 44, 52, 53, 54, 55, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 64, 69, 70, 71, 72, 74, 77, 79, 80, 82, 83, 85, 86, 88, 89, 90, 94, 109, 120, 121, 123, 126, 129, 132, 137, 139, 140, 141, 142
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Scott Aniol | Brasil

Scott Aniol, PHD, é o vice presidente executivo e o editor chefe do ministério G3. Ele é palestrante internacional, atuando em diversas igrejas, conferencias, faculdades, e seminários. Scott já escreveu diversos livros e dezenas de artigos.

Você pode saber mais a respeito dele em www.scottaniol.com Scott e sua esposa, Becky, tem quatro filhos. Caleb, kate, Christopher e Caroline.