A Pregação de Jesus era poderosa e Relevante

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O mundo está muito interessado em Jesus, desde que ele não seja cansativo. Este é o objetivo do programa “The Chosen”, que recentemente chamou a atenção da esfera secular. “Ficamos resistentes no início. Achei que seria cafona ou chato”, disse Carlos Crestana. Mas no episódio 5, ele disse: “Nós nos tornamos fãs”. Contamos a todos os nossos amigos.” Todo mundo quer Jesus, desde que ele não seja chato.

Ninguém critica um Jesus que prega sem poder

Quando se trata de pregação, nem é preciso dizer que a pregação passou por períodos difíceis. Muitas igrejas locais hoje gostariam de substituir o púlpito e a pregação corajosa por algo mais gentil e atrativo. O que sabemos sobre a pregação de Jesus? Uma análise honesta da pregação de Jesus revela que a sua pregação era tanto teologicamente rica e como também extremamente prática. Quando comparamos os métodos modernos de pregação com os de Jesus, descobrimos que o púlpito de hoje é superficial e débil. Muitas vezes a pregação visa ser imediatamente prática, ao mesmo tempo que negligencia a teologia bíblica. Podemos aprender muito do ministério de pregação de Jesus.

Jesus e Sua Pregação Profética

No Antigo Testamento, o profeta Moisés é o mais respeitado de todos os profetas por causa do seu ministério, ele entregou a Lei ao povo e o libertou da escravidão do Egito. Em seu ministério ele falou literalmente com Deus “face a face, como quem fala com um amigo” (Êxodo 33:11). Uma das grandes profecias de Moisés foi quando ele apontou ao povo o dia em que surgiria um profeta maior do que ele e que deveria ser obedecido (Dt 18).

Muitos judeus ortodoxos acreditam que este texto em Deuteronômio se refere a Josué, filho de Nun. A religião do Islã ensina que a passagem em Deuteronômio 18 se refere ao profeta Maomé (570-632 DC). Nos dias de Moisés, ele ensinava detalhes sobre os rituais e ordenanças tanto para a vida cotidiana, quanto para as práticas de adoração de Israel. Ele então lhes aponta para o profeta que um dia surgiria – este grande Profeta que lideraria o povo.

Deuteronômio, um livro que significa a repetição da Lei, termina com estas palavras:

E nunca mais se levantou em Israel profeta algum como Moisés, a quem o Senhor conhecera face a face;Nem semelhante em todos os sinais e maravilhas, que o Senhor o enviou para fazer na terra do Egito, a Faraó, e a todos os seus servos, e a toda a sua terra. E em toda a mão forte, e em todo o grande espanto, que praticou Moisés aos olhos de todo o Israel. (Dt 34:10-12).

Não era qualquer profeta que poderia cumprir a profecia de Moisés. Esta figura que Moisés prediz seria um profeta especial, diferente dos grandes profetas da história de Israel. Em última análise, Deuteronômio 18 é cumprido na pessoa de Jesus Cristo. Jesus, como Filho divino (João 1:1, 18), desfrutou de comunhão perfeita e ininterrupta com Deus Pai (Mateus 11:27; João 10:15). No ministério terreno de Jesus, ele exibiu a sua divindade ao curar os enfermos, ressuscitar os mortos, dar visão aos cegos, fazer os coxos andarem e os surdos ouvirem novamente (Is 35:5).

Jesus cumpriu o ofício de profeta ao prever a sua própria morte, sepultamento e ressurreição. Na verdade, ele fez isso em diversas ocasiões (Marcos 10:32-34). A primeira profecia de Jesus a respeito de sua morte é detalhada em Mateus 16:21–23 (ver também Marcos 8:31–32 e Lucas 9:21–22). Imediatamente após o alimentar as multidões, ele disse que “o Filho do Homem deve sofrer muitas coisas” (Marcos 8:31), ser rejeitado pelos anciãos, principais sacerdotes e escribas, ser morto, e ressuscitar.

Nenhum outro líder religioso foi capaz de vencer a morte. Jesus não apenas previu sua morte e ressurreição, mas após sua ressurreição corporal ele apareceu a centenas de pessoas durante um período de 40 dias para provar sua divindade. Ele é verdadeiramente o Profeta maior que Moisés.

O Poder da Pregação de Jesus

Nos arraiais evangélicos, a pregação foi substituída por shows e pequenas “TED-Talks” religiosas em nome de Jesus, em vez do poder de Jesus. Lembro-me de andar pelo salão de exposições da Convenção Batista do Sul em 2019 e ver mágicos exibindo seus ministérios de evangelismo ao chamar a atenção das crianças enquanto as ensinam sobre Jesus. É comum ver ministérios dedicados a musculação e outros truques enquanto a pregação é diluída.

Quando J.I. Packer era estudante em 1948-49 e atravessava a cidade de Londres para ouvir a pregação de D. Martyn Lloyd-Jones nas noites de domingo. O testemunho daquilo que Packer experimentou naqueles dias é extremamente importante para o estudo da pregação. Ele disse que “nunca tinha ouvido tal pregação”. Chegou até ele “com a força de um choque elétrico, trazendo aos seus ouvintes mais consciência de Deus do que qualquer outro homem” que ele conhecera.

Packer não estava se referindo ao forte sotaque do galês. Ele estava falando das exposições poderosas que exibiam as grandes verdades das Escrituras com declarações apaixonadas. D. Martyn Lloyd-Jones descreveu a pregação como “lógica em chamas”. Em muitas igrejas, as pessoas precisam ser despertadas do seu estado de letargia, parar de emprestar seus ouvidos à discursos políticos, dos “stand-up comedy” e de todo tipo de falsos sermões que usam indevidamente o nome de Jesus. Está faltando fogo nos púlpitos.

Hoje, muitas pessoas veem Jesus como um líder religioso ecumênico brando que ama a cultura e evita ofender, mantendo uma disposição gentil e dócil. Essa é uma visão chocantemente deficiente de Jesus. Se quisermos conhecer a Jesus, devemos conhecê-lo tal como ele nos é revelado nas páginas das Escrituras.

Em Marcos 8:27-30, encontramos a passagem popular onde Pedro confessa Jesus como o Cristo de Deus. Contudo, ao lermos essa passagem, destaca-se a resposta à primeira pergunta: “Quem dizem as pessoas que eu sou?” Jesus pediu aos discípulos que lhe dissessem o que falam sobre ele. Em outras palavras, Jesus estava interessado em ouvir as últimas fofocas sobre sua identidade na esfera pública.

Os discípulos responderam explicando que alguns afirmavam que Jesus era João Batista, enquanto outros acreditavam que Jesus era Elias ou um dos profetas. O primeiro nome que saiu da boca dos discípulos foi João Batista. Exatamente como João Batista pregou? Podemos ter certeza de que João Batista não adotou a abordagem mais gentil na pregação. Ele certamente não era efeminado ou ecumênico.

Um levantamento da vida de João Batista revela que ele nasceu para ocupar o cargo de profeta de Deus que serviria como precursor que anunciaria a vinda do Messias. João Batista foi um pregador ousado que declarou a verdade do Evangelho de Deus no deserto. Ele tinha a ousadia de um leão e a convicção de um verdadeiro profeta de Deus. Ele foi inabalável em sua proclamação, firme em seu compromisso, fiel em seu chamado e sempre abundante na obra de pregação para a glória de Deus.

Os estudiosos estimam que o ministério de João Batista, por meio de estudos históricos, durou entre seis e doze meses no total. Embora seu ministério tenha sido breve, João deixou uma marca indelével nas multidões que faziam a peregrinação ao deserto para ouvi-lo pregar. Durante um curto período de tempo, centenas de milhares de pessoas foram para o deserto ouvir o pregador trovejar a Palavra de Deus.

João Batista foi enviado para dar testemunho da Luz. Essa Luz era Cristo (João 1:6-8). Ele não apenas pregou o evangelho, mas João também foi um pregador do julgamento. Ele se recusou a capitular. Ele se recusou a abandonar o pecado para agradar as massas. À medida que as multidões vinham ouvi-lo pregar, ele estava disposto a dizer o que todo mundo tinha medo de dizer em público. João Batista declarou abertamente que era pecado Herodes se casar com a esposa de seu irmão. Em outras palavras, ele chamou o poderoso líder público de adúltero.

Quando as pessoas ouviam Jesus pregar, havia grande semelhança entre a sua pregação e a pregação de João Batista. Não havia como escapar da realidade de sua autoridade. Você poderia ficar ofendido por seus sermões trovejantes ou poderia cair de cara no chão e adorá-lo – mas não havia dúvida de que ele estava pregando com grande autoridade. Na conclusão do famoso sermão de Jesus conhecido como “O Sermão do Monte”, o povo concluiu que Jesus estava ensinando com autoridade e não como os fariseus de sua época (Mateus 7:28-29).

Jesus pregava o Evangelho

Muitas igrejas hoje sofrem da síndrome do púlpito superficial. A igreja local é fraca porque o púlpito é fraco. Em vez de se tornar uma plataforma de lançamento para sermões evangélicos, o púlpito tornou-se deficiente e a igreja local é anémica. Richard Sibbes observou: “A pregação é a carruagem que transporta Cristo para cima e para baixo no mundo.” Vemos isso no ministério dos profetas, dos apóstolos, dos pastores fiéis da história da igreja e, mais importante ainda, no ministério de Jesus.

Ao ouvir um pregador por algum tempo, você ouvirá um tema constante ou uma ênfase recorrente que continua a ressurgir. Este foco comum de um pregador destaca um objetivo contínuo em seu ministério. Por exemplo, se você ouvir qualquer pregador de cura, riqueza e prosperidade, é muito provável que sempre ouça algo em seu discurso sobre dinheiro. Outros pregadores são conhecidos pelo seu foco na escatologia ou na política, ou seja, esses temas parecem acentuar cada sermão que pregam.

Para Jesus, o tema central em que ele se concentrou foram as boas novas da salvação. Embora Jesus certamente tenha abordado muitas outras questões, tanto no nível teológico, quanto no prático, sua principal ênfase e objetivo era declarar o evangelho de Deus. Marcos abre o seu Evangelho com estas palavras que descrevem vividamente o ministério de pregação de Jesus:

E, depois que João foi entregue à prisão, veio Jesus para a Galileia, pregando o evangelho do Reino de Deus e dizendo: O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho.

Observe que Jesus era um pregador, não apenas um palestrante. Ele proclamou a verdade. A palavra traduzida para proclamação é o termo grego “kηρύσσω” que vem do arauto oficial do rei que seria despachado para a praça da cidade com uma mensagem do trono real. Todos deveriam parar seus afazeres e prestar atenção ao que estava sendo proclamado e declarado, como se o rei estivesse pessoalmente diante deles. Em outras palavras, esta não foi um discurso de histórias bíblicas, nem foi uma cusparada de dados dos comentários de sua biblioteca. Foi uma declaração apaixonada da verdade.

A pregação de Jesus foi diferente de muitas figuras modernas do evangelicalismo. O historiador israelense David Flusser argumentou que Jesus deve ser entendido como alguém que “representava uma tendência humanística no Judaísmo que estava então se desenvolvendo a partir da ala liberal da Escola de Hillel”. Flusser continua sua descrição de Jesus, sugerindo que ele “queria gerar uma atmosfera de amor, compreensão e identificação com os outros seres humanos.” Contudo, qualquer leitura séria do Novo Testamento contradiz a noção de que Jesus era um rabino ecuménico que perambulava por aí empregando uma ética sentimentalista de amor.

Em Mateus 23, encontramos algumas das palavras mais severas que já saíram da boca de Jesus em seu ministério terreno. Elas foram dirigidas aos líderes religiosos de Israel. Aos líderes de Israel foram confiadas posições de poder e influência que deveriam direcionar as pessoas para Deus e liderar o caminho para a adoração verdadeira, mas eram homens perversos com corações poluídos. Jesus os chamou de “guias cegos” em Mateus 23:16 e “sepulcros caiados” cheios de ossos de homens mortos em seu interior (Mateus 23:27). A potência da pregação de Jesus é demonstrada quando ele trovejou as desgraças do julgamento na comunidade religiosa elitista. Jesus dirigiu-se aos fariseus dizendo: “Ai de vós, condutores cegos! Pois que dizeis: Qualquer que jurar pelo templo, isso nada é; mas o que jurar pelo ouro do templo, esse é devedor” (Mt 23.16).

Você pode aprender muito com a pregação de Jesus

Jesus foi um pregador do julgamento que emitiu juízo como um fiel arauto de Deus. Da mesma maneira, Jesus chamou expôs pessoalmente os pecadores. Ele fez isso na mulher junto ao poço de Jacó em João 4. Em vez de acomodá-la e procurar conquistá-la por meio de palavras gentis, Jesus adotou uma abordagem diferente. Ele foi honesto com ela sobre seu pecado. As palavras de Jesus perfuraram o coração dela ao expor suas práticas de adultério e divórcio. Contudo, como pregador fiel da justiça, Jesus não a deixou envergonhada. Ele apontou-a para as águas vivas da sua graça soberana, onde ela seria saciada e perdoada pela sua rebelião contra Deus.

Compare a pregação de Jesus com o mundo evangélico moderno ou com algumas das tendências fracassadas do evangelicalismo e você começará a ver um grande contraste. Li um artigo de John MacArthur há alguns anos intitulado “O que há de errado com ‘sensível ao perdido’?” No artigo, John MacArthur está abordando o fenômeno “seeker sensitive (sensível ao perdido)” que varreu o evangelicalismo com o movimento de crescimento de igreja. Ele mostrou alguns testemunhos populares destas igrejas “sensíveis” que estavam sendo usadas como ferramentas de marketing para alcançar a sua comunidade. Uma pessoa descreveu sua igreja afirmando:

“Os sermões são relevantes, otimistas e, o melhor de tudo, curtos. Você não ouvirá nenhuma pregação sobre pecado, condenação e fogo do inferno. A pregação aqui não parece pregação. É uma conversa sofisticada, educada e amigável, que quebra todos os estereótipos.”

Em seu ministério terreno, Jesus nunca teve como objetivo um discurso sofisticado e cortês. Jesus foi o Profeta de Deus que transmitiu fielmente a mensagem do Evangelho. O movimento de crescimento de igreja foi um desastre total e um fracasso completo. O movimento de crescimento de igreja acabou em aceitação da cultura, diluição da mensagem da Igreja, sequestro dos púlpitos e acolhimento de bodes como membros da igreja local. Em vez de permanecerem comprometidos com a verdade e pregarem fielmente a Palavra de Deus, muitos púlpitos cederam aos truques da filosofia do ministério sensível ao perdido e, infelizmente, muitas igrejas locais nunca se recuperaram.

Os Evangelhos demonstram Jesus falando com homens, mulheres e crianças. Ele ensina grandes multidões e pequenos ajuntamentos. Ele discípula pescadores, um cobrador de impostos, um fanático político e os que estavam ainda compreendendo a Lei de Deus. Podemos aprender muito com a pregação de Jesus em nossa era atual.

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Author Open-Bible

Josh Buice | Brasil

Josh Buice é o fundador do Ministério G3 e serve como pastor na Pray’s Mill Baptist Church (Igreja Batista Moinho de Oração) na zona oeste de Atlanta. Ele ama teologia, pregação, história da Igreja, e é bastante compromissado com a Igreja local. Ele gosta de praticar esportes, como corrida de longas distâncias e costuma caçar nas florestas do país. Ele tem escrito sobre salvação pela Graça desde que estava no seminário e tem atingido um número relevante de leitores com o passar dos anos.