Podemos confiar no que a Bíblia diz?

Photo by Skyler Gerald

Talvez você tenha lido céticos da Bíblia que insistem em dizer que ela está cheia de erros e contradições. Talvez você tenha um amigo no trabalho que se recusa a ouvir você a medida que busca compartilhar o Evangelho porque ele afirma que a Bíblia é um Livro escrito por homens e que ela contém toneladas de erros e incoerências.

Não existe ninguém mais comprometido com esse tipo de linguagem do que o Teólogo do Novo Testamento Barth Ehrman. Ele estudou sob a orientação de Bruce Metzger e expôs a fé em Cristo com base em sua falta de confiança na autoridade e confiabilidade bíblica. Em seu Livro, O que Jesus disse?, e o Que não disse?, Ehrman escreve o seguinte:

Uma coisa é dizer que os originais eram inspirados, mas a realidade é que nós não temos os originais- Isso significa que o fato de eles serem inspirados não ajuda muito, a menos que eu possa reconstruir os originais. Ademais, a vasta maioria dos cristãos de toda a história da Igreja não teve acesso aos originais, fazendo com que sua inspiração seja um ponto discutível. Não somente não temos os originais, nós não temos as primeiras cópias dos originais. Nós nem sequer temos as cópias das cópias dos originais, ou até as cópias das cópias dos originais. O que nós temos são cópias feitas mais tarde-bem mais tarde. Em muitos casos, elas são cópias feitas séculos mais tarde. E essas cópias todas diferem umas das outras, em milhares de textos. Como nós veremos mais adiante nesse livro, essas cópias diferem umas das outras em tantos textos que nós nem sequer sabemos quantas diferenças existem. Provavelmente é mais fácil colocar em termos comparativos: Existem mais diferenças entre os nossos manuscritos do que existem palavras no Novo testamento.1Bart Ehrman, O que Jesus disse? O que não disse?, na versão em inglês: Misquoting Jesus, pág 10.

De acordo com Ehrman, uma vez que nós não possuímos um único autógrafo (original) de qualquer livro da Bíblia, nós não podemos ter certeza de que verdadeiramente temos a Bíblia. Ele discorre e aumenta o seu argumento ao apontar as muitas variações (diferenças) nos manuscritos. Então, será que podemos confiar que temos a Bíblia? A Bíblia merece confiança afinal? 

A Bíblia é única

A Bíblia não é apenas um Livro. De fato, é a coleção de muitos livros diferentes que estão compilados no que nós chamamos de cânon da Escritura. A totalidade da Bíblia consiste em sessenta e seis únicos livros que foram escritos em um espaço de tempo de 1.500 anos por mais de 40 autores humanos diferentes. Esses livros foram escritos em três continentes diferentes, em três línguas diferentes, e consiste em uma variedade de diferentes formas literárias e gêneros.

Talvez o maior traço de singularidade da Bíblia seja o fato de que sua fonte última é encontrada no próprio Deus. Paulo escreve as palavras seguintes para Timóteo:

Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justiça.

II Timoteo 3.16

O único termo grego composto empregado por Paulo nesse verso é θεόπνευστος que significa: “Suspirado por Deus”. Em resumo, as Escrituras do Antigo e do Novo Testamento não são apenas uma obra feita por autores inspirados, mais do que isso, a revelação se originou com Deus  e cada autor humano escreveu de acordo com a Sua vontade. O resultado foi a Palavra de Deus. Deus literalmente suspirou as escrituras.  

Ao longo dos anos, a Bíblia teve um impacto tremendo sobre o Mundo. Nunca houve um livro mais poderoso em toda a história da humanidade.  Ela foi um livro que moldou o Mundo como nenhum outro. Os resultados são surpreendentes. B.B. Warfield observa o seguinte a respeito da influencia da Bíblia sobre o Mundo:

Vá aonde quiser, se você encontrar vida, você também encontrará a Bíblia, e você a encontrará bem no meio de seu organismo. Você a encontrará no corredor da legislação, e nas leis que estão ali emolduradas, nas cortes da justiça, e na justiça que está ali administrada, nas faculdades do aprendizado, e no aprendizado que está ali imputado, nas lareiras da casa, e no treinamento da moral e nas virtudes domésticas que estão ali incutidas. Em uma palavra, é como se nenhum outro fosse necessário a qualquer nação, a Bíblia por si só promove toda a civilização, progresso e cultura.

B.B. Warfield, The Works of Benjamin B Warfield, Vol. I, 431. (Indisponível em Português)

A confiabilidade da Bíblia

Embora a Bíblia tenha deixado uma marca indelével no mundo, pode-se realmente confiar nela? A Bíblia contém erros? O fato é que Bart Ehrman está correto ao sugerir que não temos um autógrafo original de nenhum texto bíblico. Ele também está correto em seus cálculos das variantes dos manuscritos. Mas, isso significa que não podemos confiar na Bíblia?

O processo de preservação

Antes dos avanços modernos da prensa tipográfica (1436), da máquina fotocopiadora (1947) e da nuvem (2006) – o melhor meio de preservar um documento envolvia o processo de copiar um texto de um pergaminho para outro. A Igreja não tinha o Dropbox, mas tinha escribas que levavam seu trabalho a sério. Temos mais de 5.000 manuscritos de nossa Bíblia registrados, o que é muito mais do que qualquer outro livro da antiguidade.

Desde o início, a Palavra de Deus era textual. Embora o povo de Deus fosse, em muitos aspectos, analfabeto e se engajasse na transmissão oral da Palavra de Deus – o uso de textos veio cedo e era bastante sofisticado. Deus escreveu a lei em pedra e a entregou ao seu povo através de Moisés. Os profetas entregaram a mensagem de Deus oralmente através da proclamação, mas também se envolveram na escrita da Palavra de Deus para preservação. Podemos ver isso quando Jesus entrou na sinagoga em Nazaré e recebeu um pergaminho do profeta Isaías, onde ele levou seu texto para seu sermão (Lucas 4:17-21).

Um estudo sobre a Igreja primitiva revela que ao passo que eles eram engajados em transmissão oral da Palavra de Deus, eles eram também muito compromissados com os textos escritos daPalavra. Michael Kruger, em seu livro: The Question of Canon (A questão do Canon) observa que os “cristãos primitivos eram a religião do ‘livro’ logo no começo. Os cristãos encontraram sua identidade nos livros (Antigo Testamento), eles rapidamente produziram seus próprios livros, eles pregavam e ensinavam a  partir desses livros, e tinham a tendência de copiar e reproduzir esses livros para as gerações vindouras.”2Michael Kruger, The Question of the Canon, 118. Existem diversos artigos dele na internet em inglês.

A Evidência da autenticidade

Bart Ehrman em: O que Jesus disse? O que não disse? Observa que existem muitas diferenças entre os manuscritos que nós temos. Ele escreve: “alguns dizem que existem cerca de 200.000 variantes conhecidas, outros dizem 300.000, e outros 400.000 ou mais.”3Bart Ehrman, O que Jesus disse? O que não disse?, na versão em inglês: Misquoting Jesus, pág 89. Entretanto, isso realmente significa que nós devemos rejeitar a Bíblia e deixar os céticos desconstruírem nossa fé? De modo algum. Essas diferenças de manuscrito para manuscrito deveriam produzir o efeito oposto.. Ao invés de fazer com que as pessoas duvidem da autenticidade e da confiabilidade bíblica, as variantes de manuscritos deveria fazer com que as pessoas confiassem que possuímos um livro em nossas mãos, ou áudio em nossos ouvidos em formato eletrônico, algo que é a bastante palavra de Deus.  

Ao invés de fazer com que as pessoas duvidem da autenticidade e da confiabilidade bíblica, as variantes de manuscritos deveria fazer com que as pessoas confiassem que possuímos um livro em nossas mãos, ou áudio em nossos ouvidos em formato eletrônico, algo que é a bastante palavra de Deus.  

As variações entre diversos manuscritos são, em grande parte, apenas notas dos escribas, palavras adicionais, ou diferenças minoritárias que não mudam uma única doutrina essencial à fé. Em alguns casos, os escribas pensaram que uma palavra melhor poderia ser usada em um lugar específico para ênfase ou alteração do texto onde ele percebeu que o escriba anterior cometeu um erro quando estava copiando. Em grande parte, as variantes dos manuscritos são minoritárias e devem ser esperadas em um período remoto em que eles confiavam nos manuscritos de cópias feitas a mão. Mesmo nessas diferenças de manuscritos, nós vemos um trabalho de precisão e preservação.

Um cético pode apontar para o final mais longo de Marcos ou Jesus e a mulher pega em adultério (a Perícope Adulterada) em João 8 como exemplos de erros na Bíblia. Estas são as variantes mais longas em toda a Escritura. Embora devamos ser honestos em apontar que os melhores manuscritos (os mais antigos) não contêm essas seções, quando elas são removidas, nenhuma doutrina essencial da fé é alterada. O fato é que em todos os manuscritos (mais de 5.000) temos mais do que os autógrafos originais e não menos.

Tomemos, por exemplo, as descobertas de manuscritos. Em 1947, um pequeno pastor estava jogando pedras em uma caverna quando descobriu o que ficou conhecido como Manuscritos do Mar Morto. Os pergaminhos são datados de 250 a 150 A.C. A razão pela qual essa descoberta foi tão importante é baseada no fato de que os pergaminhos são 1.000 anos mais antigos do que os manuscritos mais antigos que tínhamos registrado.

Se os manuscritos estivessem cheios de erros e incapazes de permanecer consistentes de cópia a cópia ao longo dos anos, você esperaria ver uma grande diferença entre o que foi descoberto nos Manuscritos do Mar Morto e os manuscritos que tínhamos registrado dez séculos depois. No entanto, esse simplesmente não foi o caso. Os pergaminhos que tivemos registrados cerca de 1.000 anos depois foram o resultado de cópias de centenas de cópias e milhares de vezes para fins de preservação e, no entanto, são basicamente versões espelhadas dos pergaminhos encontrados nas cavernas em 1947.

O que isso prova? Prova que os escribas que estavam copiando os manuscritos bíblicos estavam focados nos detalhes e comprometidos com a preservação da Palavra de Deus. Em Deuteronômio 29.29, nós encontramos essas palavras: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei”.

Quanto mais manuscritos são descobertos e desenterrados do solo e cavernas desse mundo, mais evidencia nós temos de que a Palavra de Deus é acurada, confiável e fidedigna.

Deus realizou diversos atos misteriosos e sabe muito mais sobre o universo do que jamais saberemos deste lado da eternidade, mas ele também revelou algumas verdades preciosas para nós nas páginas das Escrituras. A Bíblia é a revelação de Deus para a humanidade. É a revelação especial de Deus para a humanidade. Não apenas podemos confiar na Bíblia, somos chamados a obedecer ao que Deus nos comunica nas páginas das Escrituras. A Bíblia não contém meramente a palavra de Deus, a Bíblia é a palavra de Deus.

Enquanto os céticos como Bart Ehrman vêm e vão com seus ataques à Palavra de Deus, à medida que os dias da história continuam, a Palavra de Deus não passa. Quanto mais manuscritos são descobertos e desenterrados do solo e das cavernas deste mundo, mais evidência tem de que a Palavra de Deus é exata, confiável e fidedigna.  

Isaias 40.8: Seca-se a erva, e cai a flor, porém a palavra de nosso Deus subsiste eternamente.

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References

References
1 Bart Ehrman, O que Jesus disse? O que não disse?, na versão em inglês: Misquoting Jesus, pág 10.
2 Michael Kruger, The Question of the Canon, 118. Existem diversos artigos dele na internet em inglês.
3 Bart Ehrman, O que Jesus disse? O que não disse?, na versão em inglês: Misquoting Jesus, pág 89.
Author Photo by Skyler Gerald

Josh Buice | Brasil

Josh Buice é o fundador do Ministério G3 e serve como pastor na Pray’s Mill Baptist Church (Igreja Batista Moinho de Oração) na zona oeste de Atlanta. Ele ama teologia, pregação, história da Igreja, e é bastante compromissado com a Igreja local. Ele gosta de praticar esportes, como corrida de longas distâncias e costuma caçar nas florestas do país. Ele tem escrito sobre salvação pela Graça desde que estava no seminário e tem atingido um número relevante de leitores com o passar dos anos.