O que fazer quando o Governo manda fazer algo contrário a Escritura?

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A Escritura ensina que o Governo foi instituído pelo próprio Deus, e que os governadores tem a responsabilidade de se submeterem a Lei Moral de Deus. Porém, o que acontece quando o Governo nos manda fazer algo que contradiz os mandamentos de Deus?  Essa, obviamente, não é uma questão nova para os cristãos, e a Bíblia oferece respostas que nos ajudam a navegar pelas aguas situacionais da vida real em que nos encontramos.

De fato, os primeiros cristãos experimentaram esse tipo de tensão entre os mandamentos dos oficiais do Governo e os mandamentos de Deus logo no início. Em atos 4, na primeira vez em que os discípulos foram perseguidos por pregar o Evangelho, Pedro fez uma pergunta ao Sinédrio que eles não conseguiram responder.

Julgai se é justo diante de Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus; (vs 19)

Pedro argumentava que havia contradições entre os mandamentos de Deus e os mandamentos dos homens- nesse caso os legisladores políticos e religiosos de Jerusalém. E ele pediu para que esses juízes de Israel julgassem por eles mesmos o que fazer nos casos em que os mandamentos de Deus e dos homens entrassem em conflito. O Sinédrio não respondeu essa pergunta um tanto retórica, claro, mas Atos 5.17-42 responde essa pergunta. A resposta auxilia cada geração da Igreja a responder essa pergunta também.

“O que eu faço quando o Governo sanciona decretos conflitantes com o ensino bíblico?” “O que eu faço quando eu sofro discriminação por conta do meu testemunho publico?” “O que eu faço quando os mandamentos de Deus e dos homens conflitam?”.

Dessa vez em Atos 5 quando Pedro aborda o Sinédrio, Ele não faz uma pergunta a eles. Ele responde explicitamente a sua própria pergunta do capítulo 4.

Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens. (vs 29)

Então as respostas para as nossas perguntas advém da afirmação de Pedro: O correto é obedecer a Deus e não aos homens quando os mandamentos dos homens claramente contradizem os mandamentos de Deus.

Eu coloco a questão da seguinte forma, especialmente porque o Novo Testamento é muito claro a respeito de “dar a Cesar o que é de Cesar”- Em resumo, nós devemos nos submeter aos mandamentos governamentais quando eles cumprem o papel que Deus determinou. Nós vemos diversos exemplos como esse na Escritura. Porém, quando o mandamento dos homens e de Deus conflitam, o correto é obedecer a Deus e não aos homens.

Agora, eu quero que analisemos 5 importantes condicionalidades dessa proposição.

Nós devemos ter certeza de que se trata de uma contradição

Primeiro, nós devemos ter certeza de que se trata de uma contradição antes de desobedecermos aos mandamentos dos homens. Seria muito fácil citar esse princípio cada vez que houver uma simples e aparente contradição.

Por exemplo, se o Governo diz que não podemos invadir a casa de alguém e pregar o Evangelho sem sua permissão, nós não podemos automaticamente dizer: “Nós devemos obedecer a Deus e não os homens!” e fazer do nosso jeito! Nós temos bastante liberdade para pregar o Evangelho em outros lugares e ocasiões. Não é como se o Governo estivesse nos dizendo para não pregar o Evangelho tal como esses líderes judaicos estavam fazendo. Nesse caso concreto, os mandamentos de Deus e dos homens não estão em conflito.

Daniel é um exemplo perfeito disso. Quando Daniel e os outros judeus foram levados cativos para a Babilônia, eles mudaram o nome de Daniel que significava “Yahweh é juiz” por um que adorava um deus falso. Eles também sujeitaram Daniel ao seu sistema de educação pagão. Igualmente, ordenaram que ele comesse da carne oferecida pelo Rei. Todos esses mandamentos eram detestáveis para um judeu temente a Deus. Porém, somente um deles conflitava com um mandamento divino-seria o de comer a carne oferecida pelo rei. Somente aquele mandamento humano claramente conflitava com a Lei do Antigo Testamento. Os outros dois eram certamente detestáveis, mas o que tem de mais em um nome? Além disso, Daniel e os outros poderiam com certeza permanecer firmes em meio à educação pagã. Entretanto, no que diz respeito a comer da carne oferecida pelo rei, algo que contradizia claramente aos mandamentos de Deus, Daniel recusou.

Então se vamos desobedecer aos homens, nós precisamos primeiro ter certeza de que o mandamento deles realmente fere os mandamentos de Deus.

A Resistência é passiva

Em segundo lugar, perceba que os apóstolos e os demais crentes não pegaram em armas e ativamente lutaram contra esses líderes judeus. Nenhum dos cristãos fez um plano para tirar os apóstolos da prisão no meio da noite. Ninguém atacou o quartel general do Sinédrio. Eles firmemente, mas passivamente resistiram aos mandamentos dos homens quando eles contradiziam os de Deus.

É sempre para o bem do Evangelho

Em terceiro lugar, perceba que enquanto exercitava sua resistência passiva, Pedro não se recusou simplesmente a obedecer e ficar de boca fechada. Ele explicou para eles o porquê não poderia obedecer, e então ele pregou o Evangelho assim como ele fez da ultima vez em que foi preso. É óbvio  que essa resistência aos mandamentos humanos não foi baseada em teimosia gratuita para proteger seus direitos-foi para o bem do Evangelho.

Se nós vamos desobedecer aos mandamentos dos homens, nós devemos ter certeza de que nós estamos fazendo isso para o bem do Evangelho, e devemos deixar isso muito claro para todos ao nosso redor.

Nunca é resistência quando nós estamos errados

A quarta qualificação é encontrada em outra afirmação de Pedro em I Pedro 4.12-16.

Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo;
pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando.
Se, pelo nome de Cristo, sois injuriados, bem-aventurados sois, porque sobre vós repousa o Espírito da glória e de Deus.
Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome.

Pedro havia experimentado o sofrimento pessoalmente, ainda assim ele nos diz que não deveríamos nos impressionar quando sofremos pelo nome de Cristo. Ele também pontua que a perseguição contra nós não deveria jamais ser por consequência de algum pecado que cometemos.  

Infelizmente houve períodos na História da Igreja de Cristo onde cristãos-mesmo pastores- cometeram crimes terríveis e pediram por imunidade em sua punição sobre o pretexto de perseguição religiosa. Essa é uma atrocidade terrível para a causa de Cristo. Nós nunca devemos quebrar leis legítimas em nossa resistência àquelas que contradizem a Deus.

Nunca devemos abandonar a verdade e devemos ser sempre respeitosos

Em ultimo lugar, perceba o tom da resposta de Pedro. Ele exemplifica o equilíbrio saudável que deveríamos ter entre um discurso gentil e respeitoso contra a autoridade governamental, enquanto ao mesmo tempo, nunca deveríamos abandonar a clara verdade do Evangelho, não importa o quanto ela seja ofensiva.

Portanto, essa passagem é clara ao afirmar que devemos obedecer a Deus e não a homens quando os mandamentos dos homens contradizem aos claros mandamentos de Deus, lembre-se dessas condicionalidades. (1) Nós devemos ter certeza de que se trata de uma  contradição, (2) É resistência passiva (3) É sempre para o bem do Evangelho (4) Nunca é resistência quando estamos errados, e (5) Nunca devemos abandonar a verdade e devemos ser sempre respeitosos.

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Author 2ajaw0t

Scott Aniol | Brasil

Scott Aniol, PHD, é o vice presidente executivo e o editor chefe do ministério G3. Ele é palestrante internacional, atuando em diversas igrejas, conferencias, faculdades, e seminários. Scott já escreveu diversos livros e dezenas de artigos.

Você pode saber mais a respeito dele em www.scottaniol.com Scott e sua esposa, Becky, tem quatro filhos. Caleb, kate, Christopher e Caroline.