O Evangelho da transformação cultural

green-leafed trees

Uma das questões missionárias mais importantes é o relacionamento entre o culto de adoração e a cultura à medida que se planta igrejas entre os indígenas. Existem dois extremos: Existe por um lado os missionários que impõem a cultura Americana sobre as Igrejas do estrangeiro, e por outro lado existem os que indiscriminadamente adotam a cultura nativa em seu culto de adoração.

Alguns anos atrás minha esposa  e eu tivemos a oportunidade de falar em uma conferencia em Curitiba, Brasil. Enquanto estava lá, eu passei algum tempo conversando com um homem chamado Rober que cresceu em uma tribo Tikuna na selva amazônica, e minha conversa com ele provou ser útil para responder uma questão bastante difícil. 

Os missionários cristãos abordaram a tribo de Rober à cerca de uma geração atrás. Antes disso, a cultura Tikuna era repleta de ritos, cerimoniais, e musicas que comunicavam os seus valores espíritas, bruxaria, e outras expressões pagãs. Quando os missionários chegaram, eles testemunharam uma garotinha passar por um rito cerimonial onde todo o seu cabelo foi arrancado. A cerimonia era acompanhada por dias imersos em orgia, bebedeira, batucada e musica ritual. Assim era a cultura indígena Tikuna.

Eu perguntei ao Rober se os missionários impuseram a sua cultura sobre as pessoas da tribo. Sua resposta foi simples: Não, os missionários não mudaram a nossa cultura, a cultura da tribo Tikuna foi transformada pelo Evangelho. Ele disse, “Aos poucos percebemos que nossa cultura não estava nos moldes daquilo que o Evangelho ensina”. 

“Aos poucos percebemos que nossa cultura não estava nos moldes daquilo que o Evangelho ensina”.

Depois que o Evangelho influenciou a cultura Tikuna, as vilas que foram “cristianizadas” viram mudanças significativas. Eles começaram a se vestir de maneira diferente. A sua musica, ritos, e cerimoniais mudaram. Rober disse que eles ainda observam alguns dos feriados de antigamente, mas esses dias agora são tratados mais como uma oportunidade para instruir seus filhos sobre os tipos de coisas que eles costumavam fazer e como as coisas são diferentes agora. A sua antiga cultura foi uma expressão dos seus antigos sistemas pagãos, o Evangelho mudou seus valores, e portanto a sua cultura mudou.  

Esse exemplo da vida real é um verdadeiro tapa na cara das definições modernas de “contextualização” por parte de alguns missiólogos de hoje. Os missionários contextualizaram? Bem, certamente. Eles converteram a língua Tikuna em linguagem escrita e traduziram a Bíblia. Eles não forçaram os nativos a vestirem ternos para irem a Igreja, embora as suas roupas certamente tenham sido mudadas. Eles comunicaram o Evangelho para a cultura Tikuna, e como resultado, a cultura deles mudou. Ironicamente, alguns podem dizer que aquelas mudanças parecem convergir para o “ocidente” ou “Europa”. 

Mas isso não significa que tudo tenha mudado. Alguns tipos de tecelagem e joias de artesanato continuam até os dias atuais. Rober disse que ele acredita que isto é resultado, na verdade, de vilas cristianizadas que estão realmente preservando a saudável cultura folclórica dos Tikunas, não necessariamente aldeias não cristãs estão fazendo isso. As aldeias pagãs, por sua vez, estão esquecendo essas belas habilidades artísticas porque estão apaixonadas por outro tipo de cultura, um tipo verdadeiramente imperialista: a cultura pop.

A Cultura Americana já “invadiu” essas tribos, e não é por causa dos missionários. Rober relatou que existem nativos que viajam horas para adquirir Televisores, rádios, e geradores de energia, eles detém sistemas de antena modernos, e têm fome de participar de qualquer tipo de cultura pop que eles puderem adquirir através dessas mídias. 

Então, insistir que os missionários americanos deveriam de alguma maneira “preservar” a cultura indígena falha em dois pontos principais: Primeiro, algumas culturas indígenas são imorais e expressam valores pagãos que contradizem a vivência do evangelho; em segundo lugar, a maior parte da cultura indígena já foi invadida pelos valores pop americanos de qualquer maneira. A cultura pop destrói as culturas folclóricas legítimas. Realmente existem muito poucas culturas puramente indígenas, e onde existem, elas provavelmente estão tão isoladas de qualquer influência do evangelho que as tornam totalmente uma frente contra o Evangelho.  

Outro fator interessante é que enquanto o Rober crescia, a medida que ele ouvia uma estação de radio cristã de curto alcance, algumas vezes a radio tocava hinos, e algumas vezes tocava musica cristã contemporânea. Rober disse que suas musicas favoritas eram sempre os hinos porque eles simplesmente pareciam expressar o sentimento Cristão, embora naquela época ele não pudesse entender as palavras porque ele não falava português ainda. As suas conclusões não vieram de algum tipo de radio conservadora, missionária imperialista americana. Não, quando Rober catalogou a musica para inserir em sua própria cultura, musica pop ocidental, ou a tradição clássica ocidental, seu coração regenerado discerniu muito bem entre: “contemporânea ocidental” e “hinos clássicos” como sendo  a ultima a melhor expressão dos valores clássicos cristãos para o culto de adoração. 

Essa discussão esclarecedora com Rober confirmou algo que já estava crescendo em meu entendimento: Nas frentes missionárias, a questão não é se a cultura vai invadir a cultura indígena, a cultura pop ocidental já influenciou a maior parte do mundo. A questão é que muitas formas culturais (tanto expressões ocidentais e idiomas pagãos indígenas) machucam o Evangelho e devem portanto ser rejeitados nas frentes missionarias.  

E como Rober de maneira eloquente e simples explicou, não será o imperialismo americano missionário que mudará a cultura pagã- o Evangelho lidará com isso à sua própria maneira.

Print Friendly, PDF & Email
Author green-leafed trees

Scott Aniol | Brasil

Scott Aniol, PHD, é o vice presidente executivo e o editor chefe do ministério G3. Ele é palestrante internacional, atuando em diversas igrejas, conferencias, faculdades, e seminários. Scott já escreveu diversos livros e dezenas de artigos.

Você pode saber mais a respeito dele em www.scottaniol.com Scott e sua esposa, Becky, tem quatro filhos. Caleb, kate, Christopher e Caroline.