Método estranho: A pentecostalização da adoração cristã

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É notório que o cristianismo global foi inundado e colonizado pelo pentecostalismo e movimentos carismáticos. Depois do catolicismo Romano, o cristianismo se identifica majoritariamente como carismático, pentecostal, teologia da prosperidade, ou nova ordem da chuva sórdida (com todas as suas transformações e diferenças) isso é uma porcentagem praticamente unanime dos que se identificam como cristãos. Em mais de 100 anos desde o seu começo na Rua Azuza, California, dominou o cristianismo, e especialmente o cristianismo espalhado pelo Sul e Sudeste. O crescente cristianismo recém nascido na América do Sul, África, e sudeste da Ásia é majoritariamente da linha pentecostal.

Não pentecostais, ou cessacionistas como eles geralmente são chamados, se tornaram a minoria. Pouquíssimas vozes se levantaram para contrariar as características teológicas do pentecostalismo: uma ênfase nos sinais sobrenaturais do Espírito Santo, uma crença no batismo do Espírito subsequente à salvação e diversas novas visões sobre cura, prosperidade e guerra espiritual. . Uma exceção importante foi a conferência Strange Fire (Fogo Estranho) de John MacArthur em 2013 e o livro resultante da conferência. Em geral, os cessacionistas simplesmente aceitam seu status de minoria e defendem sua teologia quando instigados.

Mas talvez muito mais sutil tenha sido a aquisição silenciosa do culto cristão pelo pentecostalismo, mesmo naquelas igrejas que rejeitam a teologia do continuísmo. As formas de adoração são muito mais compatíveis do que as declarações doutrinárias e tendem a se instalar gradual e silenciosamente. Uma canção popular, emergente de raízes pentecostais ou carismáticas encontra um lar nos círculos cessacionistas, porque sua teologia é ortodoxa e aceitável para os cessacionistas, ou a diferença é suficientemente pequena para caber em quase qualquer lugar. Isso não é problemático por si só; simplesmente ilustra como as formas de adoração atravessam as linhas denominacionais de uma forma que os sermões e os estudos bíblicos não fazem. É claro que alguns dos atos de adoração pentecostais mais característicos permanecem fora dos limites das igrejas cessacionistas: orar em línguas, anunciar profecias, imposição pública de mãos para curas ou exorcismos. O que chega disfarçadamente é o entendimento pentecostal do ato de adoração corporativa, com suas posturas, abordagens e expectativas que o acompanham.

A medida que igrejas cessacionistas colocam patrulheiros nas fronteiras doutrinárias, mas oferece passe livre as musicas pentecostais, bem como suas canções, formas de orar, e um sentimento conjunto, uma transformação silenciosa acontece.

A medida que igrejas cessacionistas colocam patrulheiros nas fronteiras doutrinárias, mas oferece passe livre as musicas pentecostais, bem como suas canções, formas de orar, e um sentimento conjunto, uma transformação silenciosa acontece. O resultado é uma igreja cessacionista na Ata de Constituição, mas crescentemente pentecostal em sentimento e visão ministerial. Não demora muito para que isso comece a reorganizar silenciosamente a disciplina e, finalmente, a doutrina da igreja por dentro. Charles Hodge previu o mesmo: “Sempre que ocorre uma mudança nas opiniões religiosas de uma comunidade, ela é sempre precedida por uma mudança em seus sentimentos religiosos. A expressão natural dos sentimentos da verdadeira piedade são as doutrinas da Bíblia. Enquanto esses sentimentos forem retidos, essas doutrinas serão retidas; mas se forem perdidas, as doutrinas são mantidas por causa da forma ou rejeitadas, de acordo com as circunstâncias; e se os sentimentos forem novamente trazidos à vida, as doutrinas retornarão naturalmente”.

Mas o que se refere a “pentecostalização da adoração?”, se nós removermos a maior parte das ações pentecostais como: orar em línguas, cura e etc? Em uma série de artigos à serem lançados, eu proponho que a adoração pentecostal tem uma matriz distintiva que demonstra uma ruptura histórica da adoração protestante, e até mesmo da adoração anterior a essa. Essa distinção não é exclusiva do pentecostalismo, e algumas delas se originaram antes dela. Não obstante, elas representaram muito do espírito dos autointitulados pentecostais no que se refere a adoração, e certamente representam a inovação da adoração cristã. Eu acredito que os distintivos são:

1. Uma abordagem populista à adoração, arte, tradição e autoridade eclesiástica.

O populismo rejeitou a opinião dos teólogos na ordem do culto ou música e promoveu os sentimentos intuitivos do homem comum como árbitro das decisões na igreja. Não o que havia sido cultivado por séculos de uso, ou escolhido por homens habilitados na arte e teologia, ou conhecidos por desafiar e disciplinar aqueles que queriam que coisas estranhas fossem incluídas no culto cristão, pelo contrário, adotou-se o que era vivencialmente tido como de assimilação imediata, ou visto como amplamente popular por pessoas de todos os contextos e gostos. O pentecostalismo tem sido, e permanece, bastante populista em aparência, abordagem e sentimento. 

2. Teologia de louvor e adoração.

Esta é uma abordagem peculiarmente carismática de adoração que acredita em uma visão quase sacramental da música e uma experiência tangível da presença do Espírito Santo. Por meio de frases sucessivas de música e canções, muitas vezes repetitivas e ininterruptas em sequência, o adorador pode ser levado cada vez mais fundo à presença de Deus, até que os adoradores experimentem a presença de Deus de maneiras experimentais e sentimentais. Certos tipos de música ou oração trarão a presença de Deus, da mesma forma que a Missa trouxe o corpo e o sangue de Cristo à Mesa.

3. Uma ênfase na improvisação e intensidade.

A ênfase do pentecostalismo no Espírito Santo geralmente inclui a crença de que espontaneidade e extemporaneidade representam submissão ao Espírito, enquanto o que é preparado, roteirizado ou planejado representa “a letra morta” ou “extinguir o Espírito”. Trabalhar de mãos dadas com a improvisação é intensidade, a crença de que a verdadeira experiência espiritual é encontrada de olhos fechados, oscilando na busca por intensa intimidade com Deus, muitas vezes sentida de maneira profundamente pessoal e até privadamente. Essa intensidade é o que os estetas e filósofos chamam de dionisíaco, em oposição ao sentimento apolíneo. Como veremos, cada um desses três representa uma ruptura com a adoração cristã histórica, que enfatizava tanto a beleza quanto a simplicidade, mantinha um culto de adoração em forma de Evangelho e buscava uma expressão de adoração cuidadosamente planejada, corporativa e apolínea.

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David de Bruyn | Brasil

Ele nasceu em Joanesburgo, África do Sul, onde pastoreia a Igreja Batista da Nova Aliança e reside com sua esposa e três filhos. Ele se formou no Seminário Teológico Batista Central em Minnesota e na Universidade da África do Sul (Doutorado em Teologia). David apresenta um programa de rádio semanal de grande audiência no centro da África do Sul, atua como orador frequente em conferências e é palestrante no Shepherds Seminary Africa (Seminário dos pastores Africa).