Masculinidade em Crise

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Há uma crise de masculinidade atualmente, não somente na cultura secular, uma crise de masculinidade em nossas igrejas.

Por um lado, a verdadeira masculinidade tem sido severamente efeminizada, impactando até os homens Cristãos. A cultura moderna celebra a androginia, promovendo ideais onde os traços masculinos são minimizados ou desencorajados. Homens são encorajados a abraçar as características femininas, evitando qualidades como força e liderança.

Mas por outro lado, há uma reação igualmente problemática a efeminização por muitos homens hoje, presente tanto na cultura secular e na igreja, é uma espécie de machismo bruto que acaba substituindo uma distorção antibíblica por outra, deixando de capturar a visão bíblica da masculinidade que Deus expôs nas Escrituras.

Nem a efeminização nem o machismo captam corretamente o retrato bíblico de masculinidade.

Nem a efeminização nem o machismo captam corretamente o retrato bíblico de masculinidade.

A Solução Bíblica

Então, qual é a solução para a crise de masculinidade dos homens Cristãos?

Existem muitas passagens bíblicas que podem ajudar, mas uma que descreve sucintamente as principais características da masculinidade bíblica é 1 Coríntios 16:13-14:

Sede vigilantes, permanecei firmes na fé, portai-vos varonilmente, fortalecei-vos. Todos os vossos atos sejam feitos com amor.

Ao olharmos desatentamente, podemos ser tentados a ver esses imperativos como uma despedida de Paulo, no final da carta, para repetir admoestações com cinco mandamentos desconectados. Mas, na verdade, esses cinco imperativos. resumem princípios-chave que resolvem todos os problemas que Paulo aborda na carta. E embora eles sejam instrutivos a todos os membros da igreja, notamos rapidamente que são particularmente importantes para os homens.

Se os homens Cristãos querem remediar a crise de masculinidade hoje, isso é o que devemos buscar:

Seja Vigilante

O primeiro mandamento é ”seja vigilante”. Literalmente, ”acorde”. Os verdadeiros homens Cristãos precisam estar espiritualmente despertos e alertas. Nunca podemos dormir no trabalho.

A importância da vigilância espiritual é fundamental para todos os Cristãos, mas é particularmente importante para os homens que são líderes de suas famílias e igrejas. Os homens nunca estão de folga. Como Pedro diz:

Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar. (1 Pe 5:8)

A maioria dos bons homens estaria vigilante se soubessem que existe um grande perigo. Assim como quando vamos a um restaurante com a nossa família e observamos a movimentação das pessoas.  Assim como quando estamos caminhando por uma parte perigosa da cidade e os nossos olhos estão atentos à procura de ameaças. É assim que os homens Cristãos devem se comportar espiritualmente em todos os momentos, porque existem sempre perigos à espreita – perigos espirituais que ameaçam a alma de nossas famílias e de nossas igrejas.

Muitas vezes, quando estou indo para casa, mentalmente exausto depois de um longo dia, tenho que repetir para mim mesmo: ”Você não pode relaxar quando chegar em casa”. Ah, como eu gostaria de me deitar no sofá e dormir. Não, tenho de pedir forças ao Senhor e lembrar que minha esposa tem lutado com os filhos o dia todo e que cada um deles têm seus próprios problemas também, e o diabo está ao derredor, faminto por suas almas! Tenho que entrar em vigiando.

Seja em nossas famílias ou em nossas igrejas – ou em nossas próprias vidas, não devemos esperar até que o problema se torne grande para o resolvermos. Não posso dormir, sabendo que a casa está pegando fogo e não descanso sem antes evitar incêndios. Devemos estar despertos, alertas, vigilantes, sempre ativamente procurando por probleminhas que podem se tornar grandes e queimar tudo.

Muitas vezes, a paternidade, assim como o pastoreio, pode parecer apenas a arte de apagar incêndios, ou seja, – corrigir problemas. Nós tapamos um vazamento aqui, para que outro vazamento comece, e assim por diante. E às vezes, isso é inevitável.

Mas estou convencido, como pai e pastor, que muitos problemas podem ser previstos antes mesmo de ocorrerem se estivermos vigilantes. Precisamos estar procurando sinais de incêndios em potencial, para podermos preveni-los antes que se alastrem.

Homem, para o bem da sua alma, para o bem das almas dos membros da sua família e para o bem de cada alma da sua congregação, vigie. Acorde. Observe a cultura, procure por sinais de perigo. Atente-se para as vidas de seus filhos, procurando por maneiras de os ajudar a irem a Cristo. Olhe pelos outros homens de sua igreja, buscando oportunidades de encorajá-los ou admoestá-los.

Fique atento.

Homem, para o bem da sua alma, para o bem das almas dos membros da sua família e para o bem de cada alma da sua congregação, vigie!

Permanecei Firmes na Fé

Em segundo lugar, permanecei firmes na fé.

Mantém-te firme. Mas não um tipo de firmeza machista, infundada e orientada pelo ego. É assim que muitos ”homens” agem hoje, não é? Ah, eles são firmes, mas sua firmeza se baseia em provar algo ou defender seu ego.

Não, Paulo diz: ”Permanecei firmes na fé”. O artigo definido – a fé – é importante. A fé é o conteúdo da revelação de Deus. É a verdade da Palavra de Deus.

Isto é semelhante ao que Paulo diz em 1 Timóteo 6:12:

”Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida eterna, para a qual também foste chamado e de que fizeste a boa confissão perante muitas testemunhas.”

Ele não diz apenas ”combate o bom combate de uma fé”. Ele diz:”Combate o bom combate da fé”, a verdade da Palavra de Deus.

Homens, estamos em uma batalha. Esta realidade é uma das principais razões pelas quais temos de estar atentos. Uma das coisas para as quais devemos nos atentar são os ataques contra a fé, contra a verdade da Palavra de Deus. Mas quando identificamos esses ataques, o que fazemos? Nós nos mantemos firmes. Lutamos. Defendemos.

Esta não é somente uma tarefa para pastores. A razão pela qual as igrejas são tão fracas hoje é porque os homens da Igreja pensam que apenas os pastores precisam defender a fé. Não, a Igreja é a coluna e baluarte da verdade. Todos os Cristãos – especialmente os homens Cristãos – devem defender a fé.

A razão pela qual as igrejas são tão fracas hoje é porque os homens da Igreja pensam que apenas os pastores precisam defender a fé. Não, a Igreja é a coluna e baluarte da verdade. Todos os Cristãos – especialmente os homens Cristãos – devem defender a fé.

Homens, devemos assumir a liderança; devemos permanecer firmes na fé. Não pense que este não é o seu trabalho. Não pense que isso é apenas a responsabílidade dos pastores, professores da Escola Dominical ou professores do seminário. Não, este é o trabalho de todos os crentes e principalmente dos homens da igreja. Esta é uma linguagem militar – firme – a linguagem dos homens. Protegemos as mulheres e as crianças dos ataques de Satanás, nos posicionamos como coluna e baluarte da verdade, nos posicionamos contra as ideologias mundanas e teologias pagãs que ameaçam a fé. Devemos permanecer firmes na fé.

Homens de Atitude

E isso nos leva, então, ao terceiro mandamento. ”Sede vigilantes” – essa é certamente a responsabilidade de todos os Cristãos, mas essa é uma linguagem militar; é especialmente a tarefa de um homem. ”Permanecei firmes” – essa é certamente a responsabilidade de todos os Cristãos, mas é especialmente o trabalho de um homem.

No terceiro mandamento, Paulo simplesmente sai e diz – ”portai-vos varonilmente”. Mais uma vez, trata-se de uma linguagem militar. Isso incorpora a ideia de coragem e maturidade. Não tenha medo, não seja um menino. Seja um homem. Posicione-se corajosamente. Seja vigilante, mantenha-se firme. Seja um homem de atitude!

Paulo especificamente condenou os Coríntios por seu fracasso nesse sentido. No capítulo 14, disse ele, não sejam como crianças. Sejam maduros. Ele disse no capítulo 3 que ele queria abordá-los como adultos maduros, mas em vez disso, ele tinha que tratá-los como crianças. Ele queria dar-lhes comida sólida, mas eles não estavam prontos.

E assim, ele os trata como crianças que são.

Que preferis?  Irei a vós outros com vara ou com amor e espírito de mansidão? (1 Co 4:21)

Digo regularmente aos meus filhos mais velhos: ” vocês estão na idade em que eu não deveria ter de os ameaçar com castigos. Deveria poder tratá-lo como adulto e ter uma conversa razoável. Você deve responder cumprindo as suas responsabilidades. Pare de agir como criança, tenha uma atitude madura”.

É a ênfase das Escrituras. Devemos nos esforçar para crescer em maturidade, devemos crescer em coragem, procurar permanecer firmes na fé, sempre atentos às maneiras pelas quais a fé está sendo atacada e as nossas famílias também.

Ah, como a igreja de hoje desesperadamente precisa de homens maduros e corajosos que sejam vigilantes e que permanecem firmes na fé.

Infelizmente, vivemos na época em que igrejas louvam a imaturidade, ela é ridicularizada e considerada cativante. ”Meninos são meninos”, ouvimos quando alguns adolescentes fazem algo errado.

Não, a infantilidade dos jovens ou de homens não é cativante, homens de verdade abandonam a meninice (1 Co 13:11).

Infelizmente, vivemos na época em que igrejas louvam a imaturidade, ela é ridicularizada e considerada cativante. ”Meninos são meninos”, ouvimos quando alguns adolescentes fazem algo errado. Não, a infantilidade dos jovens ou de homens não é cativante, homens de verdade abandonam a meninice (1 Co 13:11).

Seja Fortalecido

E então, temos um quarto mandamento: literalmente, ”fortalecei-vos.” Este é o único verbo passivo nesta lista de comandos. Na verdade, Paulo não diz: ”seja forte”. Ele diz: ”fortalecei-vos.” Por que? Porque você não pode se fortalecer. Somente Deus pode te fortalecer.

Isso decorre do que vem antes. Só podemos ser vigilantes, permanecer firmes na fé e agir como homens se formos fortalecidos para o fazer, não de dentro de nós, mas de Deus. Ele deve nos fortalecer para cumprir essas responsabilidades que Deus nos deu como homens Cristãos.

Homens que pensam que são fortes em si mesmos, na verdade, têm uma falsa visão da verdadeira força Cristã. Isso era verdade para os Coríntios. Mas Paulo os admoesta:

Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia. (1 Co 10:12)

Eles pensavam que eram fortes, pensavam que eram capazes de resistir, mas era uma força falsa; era uma força auto-fabricada. Era uma espécie de machismo terreno que é inflado, egocêntrico, exibicionista e ostentador, que exibia como eram fortes, em vez de realmente serem fortalecidos pela graça que está em Cristo Jesus.

Esse tipo de força falsa está se tornando cada vez mais um problema hoje, especialmente entre os homens Reformados. Há um tipo de machismo Reformado que está em ascensão hoje que não está sendo fortalecido pela graça que está em Cristo Jesus, mas tem que ver com ego e postura. Esse era exatamente o problema dos Coríntios, e se não tivermos cuidado, isso pode se tornar um problema para o movimento Reformado hoje.

Há um tipo de machismo Reformado que está em ascensão hoje que não está sendo fortalecido pela graça que está em Cristo Jesus, mas tem que ver com ego e postura.

Não devemos ser como os Coríntios. Eles estavam agindo como crianças, mas se você ler o livro, você pode dizer que estavam provocando, desafiando Paulo a desafiá-los. Eles estão ”agindo como homens”, mas na verdade, são meninos que fingem ser homens através de um machismo falso e egocêntrico.

Esta não é a verdadeira masculinidade. Esta não é a verdadeira força. A verdadeira força que vem de Cristo é caracterizada pelo tipo de força que Cristo demonstrou. Que homem forte havia lá além de Jesus Cristo? Mas ele não ostentava a sua força. Ele não é orgulhoso. Ele não tentou provar que é forte e importante. Não, Cristo ”a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo” (Fp 2:7).

A força semelhante a Cristo é humilde; ela se manifesta por ser um servo. Sim, assumimos a liderança. Sim, somos vigilantes, permanecemos firmes, agimos como homens, mas fazemos isso no serviço de Cristo, servindo famílias e igrejas que Deus nos chamou para auxíliar.

Este é o tipo de vigilância, firmeza e masculinidade que precisamos: serviço.  Liderança, sim, mas uma liderança que serve. Homens, somos chamados a servir. Isso pode parecer contra-intuitivo. Devemos liderar? Sim, mas liderar como Cristo.

Se a nossa força vem de dentro, seremos inflados, machistas, movidos pelo ego e, por último, abusivos. Mas se a nossa força vem pela graça de Cristo através do Espírito de Cristo, nossa força será mansa, humilde e orientada para servir a Deus e aos outros.

Se a nossa força vem de dentro, seremos inflados, machistas, movidos pelo ego e, por último, abusivos. Mas se a nossa força vem pela graça de Cristo através do Espírito de Cristo, nossa força será mansa, humilde e orientada para servir a Deus e aos outros.

Todos Os Vossos Atos Sejam Feitos com Amor

E, finalmente, ”todos os vossos atos sejam feitos com amor.” Aqui está o mandamento final que caracteriza todos os demais, e apoia ainda mais a ideia de uma verdadeira força semelhante a de Cristo que acabamos de discutir. Liderança auto-centrada, força auto-centrada, é abusiva, é mais sobre o homem do que sobre aqueles que ele é chamado a servir.

É verdade, a força semelhante a de Cristo é caracterizada pelo amor. Não estamos falando de um sentimento dócil. Amor é, em última análise, auto-sacrifício. ” Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos.”, disse Jesus (João 15:13).

A força semelhante a de Cristo é caracterizada pelo amor.

Os Coríntios podem ter pensado que eles eram fortes, mas a evidência final de que eles não eram fortes como Cristo é que eles não eram amorosos. Eles eram uma igreja dividida, cada pessoa se posicionava para a sua própria glória e condição, em vez de estarem unidos na mesma mente e no mesmo julgamento (1 Co 1:10).

Eles eram sexualmente imorais de maneira que Paulo diz que não existía tal imoralidade nem mesmo entre os pagãos (1 Co 5:1), uma das evidências mais hediondas do machismo egocêntrico.

Acusavam-se uns aos outros (1 Co 6), os cônjuges se privavam (1 Co 7), os chamados irmãos ”fortes” oprimiam os fracos entre eles (1 Co 8), consumiam comida na Ceia do Senhor (1 Co 11)… e a lista continua.

Você pode imaginar – não é como se esta igreja estivesse cheia de homens passivos e afeminados. De todas essas descrições de divisão, imoralidade e abuso, é claro que esta igreja estava cheia de homens ”fortes”, pelo menos de uma perspectiva terrena. Eram homens ativos, agressivos, inflados, machistas, egocêntricos e egoístas interessados somente em si mesmos, em suas condições, em seus prazeres, em suas chamadas ”experiências espirituais” e em suas chamadas ”liberdades Cristãs.” O mundo provavelmente olhava para esta congregação e dizia: ”Esse grupo é cheio de homens fortes – esses são os homens másculos.”

Mas não eram homens Cristãos. Eles não estavam atentos às maneiras pelas quais poderiam servir suas esposas, seus filhos e a outros membros da igreja, eles estavam focados nas maneiras pelas quais poderiam promover a si mesmos. Eles não estavam firmes na fé da Palavra de Deus, estavam firmes em seus próprios interesses. Eles não estavam agindo como homens corajosos e maduros, eles estavam realmente agindo como neninos. Eles não estavam exibindo força semelhante a de Cristo no serviço aos outros, eles estavam exibindo uma pseudo-força no serviço a si mesmos. Em última análise, eles não estavam amando. Não eram servos abnegados.

Homens, que imagem de ”masculinidade” nos caracteriza? Masculinidade machista, egoísta, agressiva e abusiva? Ou amor sacrificial?

Homens, que imagem de ”masculinidade” nos caracteriza? Masculinidade machista, egoísta, agressiva e abusiva? Ou amor sacrificial?

A verdadeira masculinidade bíblica, semelhante a de Cristo, é amorosa. E se formos verdadeiramente amorosos com essa definição bíblica de serviço sacrificial, então seremos homens vigilantes, ativamente procurando por maneiras de proteger as nossas famílias e outros membros da Igreja, ativamente procurando por maneiras de servi-los. Seremos homens que permanecem firmes na fé, não por algum tipo de egoísmo inflado que tem algo a provar, mas porque temos zelo pela Palavra de Deus. Seremos corajosos, não de uma forma agressiva e abusiva, mas de uma forma que protege aqueles que cuidamos. Mostraremos a verdadeira força, não de dentro, mas de cima. Uma força altruísta e verdadeiramente amorosa.

Sejamos homens de verdade.

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Scott Aniol | Brasil

Scott Aniol, PHD, é o vice presidente executivo e o editor chefe do ministério G3. Ele é palestrante internacional, atuando em diversas igrejas, conferencias, faculdades, e seminários. Scott já escreveu diversos livros e dezenas de artigos.

Você pode saber mais a respeito dele em www.scottaniol.com Scott e sua esposa, Becky, tem quatro filhos. Caleb, kate, Christopher e Caroline.